Por Ricardo Fonseca
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2012
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Para outras pessoas, mediante as suas vivências espirituais, a morte não é o limite da Vida, mas sim a passagem para uma outra dimensão vivencial.
A morte surge assim como um conceito associado à finitude de um ser, o fim de um ciclo, de um percurso vivencial. Porém é um assunto sobre o qual muitas vezes não se pensa, fala e adia-se até chegar ao momento de nos depararmos com a sua presença.
A espiritualidade que cada um de nós vive é composta por um conjunto de crenças, ideologias que correspondem ao que a nossa essência acredita e é a base de todos os nossos comportamentos, pensamentos, sendo de igual modo o nosso porto de abrigo quando enfrentamos situações extremas que implicam grandes mudanças.
Vivemos sujeitos a inúmeras mudanças originadas por diversas situações dependentes dos contextos onde estamos inseridos, tentando adaptarmo-nos constantemente adequando assim o nosso crescimento e desenvolvimento pessoal.
Mudamos diariamente quer seja em simples ações, pensamentos ou quer seja em grandes proporções, mas seja qual for o formato da mudança, é sempre um facto que cria antagonismos com a nossa forma de ser, estar, sentir e com a espiritualidade que nos guia e orienta o nosso viver.
Evoquei no início deste artigo a morte por a considerar como um grande momento de mudança: para quem morre, quem sofre a perda e para quem viveu uma experiência de perto da morte.
Que se sente perante a morte? Qual o impacto desta proximidade com a morte na nossa espiritualidade? Que mudanças operam em nós quando confrontados com a nossa finitude?
Em todo o mundo, há um grande número de pessoas que conviveram de perto com a morte, com a sensação de término da sua Vida e desse contacto resultaram grandes mudanças interiores com efeitos externos em todos os contextos da sua vida.
Numa experiência de quase morte, segundo os relatos existentes, há uma visualização da vida da pessoa com uma visão de 360º, a impressão de estar num segundo corpo distinto do corpo físico, a sensação de presença de outras pessoas, a visão de uma luz brilhante e também de mestres espirituais. Há também relatos de algumas pessoas que referiam a ampliação dos seus sentidos vivendo experiências auditivas, visuais e mesmo tácteis.
Todos estes acontecimentos associados a esta experiência evocam a existência da alma (o segundo corpo que foi sentido) e colocam em causa as crenças e valores que as pessoas viviam até então. Criam-se alterações comportamentais com uma abertura religiosa a novas crenças, sem dogmas, com uma maior valorização da Vida e atribuindo um novo significado ao acto de morrer.
As pessoas que passaram por estas experiências alteram toda a sua vivência manifestando sentimentos de paz interior, de bem-estar, desvalorizando juízos críticos e aceitando os outros como eles são impedindo-os de serem factores de mau estar e de negatividade.
Há mudanças visíveis a todas as pessoas que rodeiam quem passou por este acontecimento, mas as alterações mais profundas foram aquelas associadas à essência, à espiritualidade, ao acreditar que há algo mais do que se julga como garantido.
Podemos perguntar-nos se é preciso enfrentarmos uma experiência de perto da morte para sentirmos mudanças na nossa vida e questionarmo-nos acerca da nossa vivência espiritual. Tal como nos podemos questionar sobre o que se pode aprender com estas experiências relatadas por outras pessoas tão distintas e com vidas totalmente diferentes.
Assim, colocando em causa todas estas informações provenientes destas experiências podemos debater a mudança espiritual que ocorreu em cada pessoa e transportá-la para a nossa existência tão própria e tão clarificada.
Vivemos a nossa espiritualidade de uma forma tão própria e pessoal, mas quando somos obrigados a questionar toda esta linha de pensamento verificamos que podemos operar mudanças, das mais simples às mais complexas.
A espiritualidade não é imutável, podendo ser alterada durante todo o nosso percurso com consequentes alterações de credos, crenças, ideias e sentimentos. O que se pede a cada um de nós é que estejamos de coração e mente aberta para aceitar tudo o que a Vida nos oferece e de igual modo aquilo que a proximidade com a morte nos pode oferecer.
Cada dia é uma fonte de mudança! É uma oportunidade de apreciar a vida com toda a sua magnificência, encanto e valor. Estas pessoas que viveram experiências de perto da morte, com os seus relatos, mostram-nos que somos agentes de mudança de nós mesmos e que apesar de não vivermos as mesmas experiências podemos certificar-nos que o nosso existir tenha uma sentido, um propósito preparando assim o nosso percurso nesta linha contínua a que chamamos Vida.
Enfermeiro / Escritor
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REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2012