Por Carlos Lourenço Fernandes.
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2012
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As relações compreendem a inteligência na articulação entre seres distintos, modos de percepção diversos, selectividades de escolha, compreensão mútua e ampla capacidade de aceitar a diferença. O estabelecimento de relações não significa a expressão de domínios – dominar e ser dominado – mas, em contrário, significa a predisposição para obter consensos na partilha reconhecida de resultados. Significa o reconhecimento da maioridade de cada um, significa a aceitação de cada um (ou a consideração de posições diversas sobre questões ou temas). E nos diversos universos. Da profissão à relação amorosa.
Estamos todos no mesmo mundo. Mas as sensações são de natureza privada. As sensações são privadas. Todos temos perspectivas diferentes, leituras distintas, encerrados na nossa compreensão única. Vivem-se as mesmas histórias. Na profissão ou nos afectos. Vive-se no mesmo tempo e ao mesmo tempo. Mas a relação obriga ao respeito do campo perspéctico do outro. Em campo só somos uma co-presença. O outro, física e na relação, existe e é distinto. A mútua coincidência no palco do mundo só confere, na relação, o dever do respeito e consideração mútuas.
A comunicação estabelece-se nas relações quando o emissor é receptor e o receptor também emite. No fluxo comunicacional (na profissão ou afectos) não há prevalência, relevância duma parte, há, em sublinhado e afirmação, argumentos e, em presença, importará a razão. Razão construída em partilha, em espiral vertical de busca de compreensão mútua. Os resultados – na relação – só se aceitam quando os argumentos ambos convencem, tornando-se, justamente, produção inteligente e em comunhão. A razão só é aceite quando é partilhada. A razão torna-se normativa quando ganha, nos relacionamentos, a fácil compreensão – após esforçado diálogo de argumentos.
O relacionamento hierárquico (do chefe ao subordinado), ou o relacionamento de domínio entre géneros, vem dando lugar, ao reconhecimento do mérito. A construção de resultados em equipa, em abordagem articulada de eficiências diversas e competências múltiplas, vem constituindo o âmago das relações profissionais. A chefia não se impõe pela via disciplinar. Impõe-se pela via do reconhecimento do mérito. Lidera-se porque se tem mérito na escuta do argumento distinto, na consideração ajustada da opção alternativa, no respeito pela diferenciação de soluções. A “velha” e inútil concepção de natureza disciplinar no exercício de chefia nas relações é substituída pela adequada liderança suportada e fundada no mérito. Os relacionamentos de sucesso (na obtenção de resultados e na eficiência dos meios) suportam-se no mérito da cooperação conjunta.
Os relacionamentos convocam a necessidade de, em permanência, se alimentarem de bem-fazer e de melhor empenhamento na clareza, transparência e lealdade mútuas. Relacionar não significa a hostilidade da opacidade, das angústias e fracassos fundados na deslealdade. Os relacionamentos – difíceis, esforçados, exigentes – não são ausência de relação.
A ausência de relação é o progressivo empobrecimento. Na cadeia de valor é da maior importância estabelecer e alargar relações. E sobretudo, com a diferença.
Professor, escritor, conferencista
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REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2012