in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2018
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O ciclo de vida é impermanência. Nunca somos iguais a cada segundo da nossa vida, ora por razões naturais (da própria vida), porque crescemos, socializamos com pessoas diferentes, partilhamos afetos de forma diferente, ora por razões acidentais (que não teriam necessariamente de acontecer e por isso imprevisíveis), porque mudamos de ambiente, perdemos ou ganhamos empregos, mudamos a disponibilidade dos nossos recursos, fazemos lutos inesperados, temos ganhos inesperados. A todos estes fenómenos podemos dar o nome de transições.
Quando falamos de transições, uma teoria muito interessante que nos ajuda a compreender este(s) processo(s) é a Teoria das Transições (Chick e Meleis, 1986). A partir desta teoria entendemos que, quando falamos de impermanência no contexto económico e em específico no financeiro, estamos a falar de transições situacionais, processos que, de forma inesperada, vão surgindo e obrigando a que cada pessoa se adapte e se transforme em resposta às mudanças e às diferenças que possam ocorrer. Diria mesmo, que inevitavelmente ocorrem.
A impermanência exige, então, uma constante vigília da alma, para entender que estamos em impermanência e, portanto, que temos necessidade de desenvolver uma importante propriedade para passarmos saudavelmente por uma transição: a consciencialização. Esta propriedade tão importante para o desenvolvimento de uma transição exige um grande desenvolvimento do sentido de ser e estar na impermanência: exige conhecimento, exige aceitação, exige atitude.
A transição económica, que é mais do que uma adaptação a uma impermanência financeira, exige a passagem por diferentes pontes, até chegar à meta da sua concretização:
A Consciencialização e o envolvimento no contexto da Família
É na interação com as pessoas que vivem connosco o quotidiano que as questões da impermanência nas finanças são primordialmente construídas para possibilitar a consciencialização de impermanência. Analisar, por exemplo, a impermanência financeira, exige uma análise conjunta do agora, do como estamos na nossa casa, para entender que recursos não temos mais e que mudanças devemos procurar para responder à diferença, para que o rendimento familiar não seja insuficiente (Figueiredo, 2012). Depois do conhecimento conjunto deste caminho de impermanência, vem a atitude: o incentivo mútuo de que vamos ser capazes de superar a impermanência, juntos e identificando os recursos que já temos e os que precisamos procurar.
A Ação Social, no contexto comunitário
Porque além das 4 paredes que nos unem como família há toda uma comunidade plena de impermanências, é certo, mas plena igualmente de recursos. A impermanência financeira, neste contexto, está claramente ligada a outras impermanências económicas: a impermanência no exercício da cidadania para a procura e o desenvolvimento de recursos na nossa comunidade, a liderança na melhoria das condições económicas de todos os membros da comunidade e por vezes crenças dificultadoras das próprias transições (quer individuais, quer familiares, quer comunitárias), por exemplo: a crença de que “como somos um bairro social é normal não termos emprego nem outros recursos”. Neste contexto, a permanência da impermanência pode ser destruidora, se não houver um diálogo coletivo de construção de uma comunidade mais participativa, mais inovadora e com maior sentido de suporte mútuo, com uma conduta altruísta de apoio a todos os que procuram sucesso nas inevitáveis transições da impermanência. É preciso promover uma Gestão Comunitária eficaz, na construção de melhor liderança, de melhor comunicação comunitária e de maior participação de todos (Melo, 2012).
A Ação Política
Esta ação é resultado do conjunto das ações que indiquei anteriormente. Chegamos a esta etapa de transição face à impermanência económica, quando as famílias se auto-organizarem para melhorar os seus recursos e quando as comunidades estiverem empoderadas para melhorar as suas respostas às problemáticas sociais que decorrem das transições. Conseguimos esta ação com um exercício forte de cidadania que exija a qualificação das pessoas (só com conhecimento se tem consciencialização e adequado envolvimento nas respostas às impermanências), a gestão inteligente dos recursos das comunidades (que promovam a equidade no acesso ao emprego, à educação) e, portanto, um contexto comunitário facilitador das transições económicas, que incluem os desafios financeiros, os desafios sociais e os desafios pessoais.
Entre a transição individual, familiar e coletiva está uma certeza: a solução da impermanência gera impermanência e é esse o sentido de existirmos: os desafios de responder ao desconhecido com os recursos do conhecido.
Referências:
Chick, N & Meleis, A (1986). Transitions: a Nursing Concern. Nursing Research Methodology. University of Pensylvania.1986: 237-257
Figueiredo, MH (2012). Modelo Dinâmico de Avaliação e Intervenção Familiar- uma ação colaborativa em enfermagem de família. Lusoditata: Loures.
Melo, P. (2017). Modelo de Avaliação, intervenção e Empoderamento Comunitário- Manual do utilizador. Edição de autor: Porto. ISBN: 978-989-97154-1-7
PROFESSOR NA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA (ICS – PORTO); ESCRITOR
www.facebook.com/escritorpedromello
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