in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Nesta lista infindável de palavridades, uma tem vindo a crescer em importância e em referência nos últimos 50 anos: Sustentabilidade. Aliás, tal é o seu crescimento nos nossos textos, discursos, livros, websites e afins que um estudo recente afirma que a este ritmo lá pelo final do século apenas diremos Sustentabilidade. Sustentabilidade. Sustentabilidade.
Mas dizê-lo, escrevê-lo, pensa-lo não é necessariamente sê-lo. Será utópico sermos 100% sustentáveis no dia-a-dia, com as necessidades que a sociedade atual nos impõe? Talvez nem consigamos atingir uns meros 50%. Realisticamente, uns 20%.
Mas então, pergunto, como é possível realizar essa transição necessária para um mundo sustentável quando muitos de nós, provavelmente todos, sem pestanejar, concordariam que a Sustentabilidade é algo fundamental para as nossas vidas e para as nossas economias e sociedades? Como fazê-lo nos dias de hoje, sem vivermos na ilusão e na inércia de que a sustentabilidade apenas será alcançada no mundo ideal, sem carros, sem indústria, sem o tão necessário paté dos dinossauros? Quantos de nós, verdadeiramente, vivem de forma Sustentável? E quantos de nós sabem verdadeiramente o que é a Sustentabilidade? Num artigo de Outubro de 2013, definimos aqui a Sustentabilidade como: ‘capacidade de alcançar um equilíbrio intergeracional no uso dos recursos que possibilite alcançar a plenitude humana. Isto é, seguirmos um caminho evolutivo constante que nos permita continuamente explorar as nossas capacidades e progredir enquanto seres sencientes que somos.’.
Conceitos bonitos mas continuamos na mesma. Como é que a Sustentabilidade se materializa nas nossas vidas pessoais e individuais? Como é a Sustentabilidade se cristaliza em nós e na nossa ação, principalmente a partir daquele momento ‘epifânico’ em que nos apercebemos do seu significado, da sua importância e urgência? Afinal, se a sustentabilidade é algo tão urgente, tão falado, tão pensado, porque se torna tão difícil viver de forma sustentável?
A resposta, qui ça e sem verdades absolutas poderá estar no compromisso consciente do aqui e agora, na responsabilidade pelo impacto de cada ação, no encontro do equilíbrio. O equilíbrio como uma dança, passos diferentes, por vezes opostos, por vezes complementares. Entre momentos de avanço e recuo, vamos aprendendo, melhorando. No entanto, para a dança fazer sentido, a consciência tem de estar presente, tem de compreender as consequências de cada movimento, tem de compreender que a prática envolve esforço, envolve repetição, mas, se tivermos a persistência e a resiliência para não desistir em cada queda, não desistir em cada momento de frustração, um dia, a dança deixa de ser uma prática para se tornar uma parte inseparável de nós, tornando-nos mais completos. O processo não é simples, em momentos chega até a perder o sentido, e “desencontro” parece ser a palavra que ironicamente melhor define o processo de “encontro”.
Ser sustentável não é fácil, ser sustentável implica escolhas, implica sacrifício, no entanto, tal como na dança, a sustentabilidade tem de ser vivida com presença, com intensidade, com partilha e como um caminho para a felicidade, pois, se a sustentabilidade não te fizer feliz, como se poderá tornar no nosso caminho? Eu escolho a sustentabilidade, tal como escolhi a dança. Faz-me feliz, faz-me saudável, ensina-me mais sobre mim e sobre o mundo.
ANA NEGRÃO ARQUITECTA EM TRANSIÇÃO FILIPE ALVES INVESTIGADOR, FUNDADOR - BIOVILLA in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2014 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |