É urgente compreender o dinheiro, pelo impacto que tem no nosso dia-a-dia, na forma como vivemos e como determina o futuro. A chave de sucesso está no aumento da literacia financeira e na tomada de decisões informadas. Por Susana Gonzalez in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2022 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |
Se um pescador tinha excesso de peixe, rapidamente procurava um agricultor com quem pudesse realizar uma operação de troca, sendo claro o benefício inerente a esta permuta para os dois. Gado, sal, açúcar, tecidos, assim como peças de metal em formato de facas e chaves eram elementos de troca muito comuns em especial na Ásia e em África.
O conceito de dinheiro em forma de moeda terá surgido no século VIII a.C. em território grego, na Lídia. A transformação do dinheiro-mercadoria para o formato em que o conhecemos hoje passou por diversas fases e “revoluções” civilizacionais, políticas e económicas. Atualmente, uma transação financeira pode até acontecer por meios eletrónicos, o que faz imaginar que no futuro o dinheiro físico se poderá tornar até “uma coisa do passado”, sendo totalmente substituído pelas opções eletrónicas.
Embora seja claro que o dinheiro, independentemente do seu formato, é parte do nosso dia-a-dia e uma necessidade que permite o acesso a bens e serviços, nem sempre conhecemos o seu verdadeiro valor ou como o podemos (ou devemos) aplicar. Compreender toda a “gíria” financeira é, por si só, um grande desafio para a maioria das pessoas. Por esse motivo, sem grande informação/formação, é fácil tomar decisões precipitadas que colocam muitas vezes em risco a nossa subsistência e futuro.
Certo é que o dinheiro é um tema transversal e do interesse de todos. O dinheiro tem, por isso, uma grande fama!
Tem fama de ser bom, tanto é que muitos o têm como principal ambição de vida. Tem fama de ser mau porque muitos são aqueles que se perdem nos meandros das “teias financeiras”. Tem fama de ser fácil ou difícil, sendo que essa avaliação depende naturalmente da circunstância de cada um.
Independentemente da forma como o vemos, ou como nos relacionamos com o dinheiro, adquirir conhecimentos das várias questões relacionadas com a sua gestão é extremamente relevante. A este conhecimento chamamos “literacia financeira”.
A literacia financeira tornou-se um dos principais objetivos da Comissão Europeia e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que criaram referenciais que estabelecem “as competências financeiras relevantes para a população adulta, identificando os conhecimentos, as atitudes e os comportamentos financeiros necessários para a tomada de decisões financeiras informadas e adequadas, essenciais ao bem-estar financeiro.” O “Referencial de competências de literacia financeira para a população adulta da União Europeia” resulta de um projeto conjunto da Comissão Europeia e da OCDE/INFE, tendo contado com a participação de supervisores portugueses.
Muitos são os estudos realizados a nível europeu para aferir os conhecimentos financeiros em cada país e, em 2020, Portugal ocupava a última posição do ranking de literacia financeira dos 19 países da zona euro, segundo um artigo publicado pelo Banco Central Europeu (BCE).
Ao mesmo tempo que se verifica que os portugueses são dos povos europeus com menos conhecimentos financeiros, constatamos também que Portugal é dos países com maiores níveis de endividamento privado. É o “cocktail” perfeito para criar situações de dificuldade financeira e até de sobre-endividamento.
Está, portanto, na altura de pormos de lado as barreiras em torno dos temas financeiros e encararmos de frente a necessidade de adquirirmos ferramentas que nos permitam fazer uma melhor gestão dos nossos recursos financeiros. Da mesma forma que não conseguimos escrever se não tivermos conhecimento das regras gramaticais da nossa língua, também não vamos conseguir tomar decisões certas e informadas sobre como gerir bem o dinheiro, como poupar ou investir, se não aprendermos sobre finanças.
E adquirir conhecimentos financeiros não significa entrarmos em conceitos altamente complexos, tal qual um economista ou um gestor. Significa, sim, aprender os conceitos básicos que possam ser aplicados no nosso dia-a-dia e regras chave que devemos lembrar no momento de tomar decisões importantes, de modo a que possamos melhorar a nossa condição de vida. Este processo de aprendizagem torna-se tão mais importante numa fase como aquela que atravessamos atualmente, na qual uma situação económica desfavorável coloca muitas famílias em risco de sobre-endividamento ou mesmo de pobreza.
Falar em conceitos financeiros ou em literacia financeira deve passar a fazer parte do nosso dia a dia, sem medos nem tabus. Se o termo literacia financeira parece complicado e menos apelativo, então podemos simplesmente passar a dizer que vamos aprender sobre dinheiro e como geri-lo. Soa melhor?
AUTORA DO DESENHO ESTRATÉGICO DO PROGRAMA DE LITERACIA FINANCEIRA “FINANÇAS PARA TODOS” E ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO DO PROJETO
www.financasparatodos.pt
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2022
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)