Por Fátima M. Lopes
in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2021
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Os acontecimentos, os dramas, as personagens e os enredos da nossa história pessoal são apenas o contexto para a nossa jornada evolutiva. A essência da vida é mudança, transformação e crescimento. Infelizmente, a nossa sociedade ocidental está presa naquilo a que Étienne Guillé chamou “o ciclo do produzir-consumir-morrer”. Vivemos mais a vida por via da imitação do que vemos os outros fazerem do que por via da autorreflexão, buscando no nosso interior a clareza de respostas que nos possam servir de guias no caminho. Se olhássemos mais para dentro e nos questionássemos sobre a essência da vida, veríamos que não viemos ao mundo para cumprir horários e rotinas, mas sim para alcançarmos a melhor versão de quem somos. Uma árvore procura crescer em direção ao céu; um rio procura chegar ao mar e os seres humanos procuram a transcendência. É essa a nossa natureza mais profunda. Mas os ritmos alucinantes da época em que vivemos não nos deixam tempo nem espaço para refletir a este respeito.
Assim, vamos olhando para o exterior em busca daquilo que achamos que é esperado de nós, e ajustamo-nos ao paradigma vigente sem sequer o questionar. Quando damos por nós estamos exaustos de tanto labutar e continuamos sem saber que raio andamos aqui a fazer. Para nos aliviarmos desse desconforto procuramos alívio no consumo de todo o tipo de bugigangas; em viagens para lugares exóticos ou em maratonas de séries televisivas. Não estamos presentes, estamos em piloto-automático. Não estamos de facto a viver a essência da vida, estamos apenas a lutar pela sobrevivência e a descansar dessa luta nos poucos tempos livres disponíveis. Alguns poderão dizer que sempre foi assim, mas não é verdade. O ser humano sofreu uma cisão entre si e o misterioso, entre si e o sublime, entre si e o transcendente nos últimos trezentos anos, com o advento do materialismo cientifico. Esta visão mecanicista da vida convenceu-nos de que o universo funciona como uma máquina e de que até o nosso corpo se assemelha a uma máquina. Por isso passámos a comportar-nos como se fossemos de facto máquinas. E o que fazem as máquinas? As máquinas fazem operações, executam tarefas, fazem cálculos, executam processos. As máquinas não têm vida mental, emocional e muito menos espiritual. Mas nós temos tudo isso, só que esses aspetos menos pragmáticos da nossa natureza foram excluídos da equação. Para invertermos esta tendência destrutiva, deveríamos ser capazes de parar com frequência. Fazer pausas significativas para explorarmos o que nos vai na alma, deixando-nos conduzir por essa força misteriosa que vem do nosso interior (e que sabe sempre o que está certo); em vez de nos perdermos na catadupa de estímulos exteriores, que apenas nos anestesia da dor profunda que sentimos, pelo facto de nos termos desviado da essência da vida e do nosso caminho original.
AUTORA DO LIVRO: “UMA VIDA COM PROPÓSITO”
in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2021
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