Por Sofia Pérez
in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2019
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Como definir exatamente o que alguém sente quando chega o outono ou o que desencadeia o desejo de pôr fim à sua existência?
Sinto que já vivi duas vidas, onde existiu uma outra versão de mim intermitente. Essa outra versão começou a manifestar-se muito cedo, mais precisamente aos 21 anos, com o meu primeiro episódio de depressão. Recuperei passado 1 ano e voltei a ter episódios intermitentes mais leves ao longo dos anos seguintes. O último desses episódios foi o responsável pela grande e definitiva mudança na minha vida.
O que me levou a sair desse estado foi sentir que a dor de permanecer assim já não era suportável, a partir daí a única hipótese foi aceitar tudo em mim, mergulhar fundo e descodificar cada pensamento, crença e padrão de comportamento meu.
Quem sofre ou sofreu de depressão sabe de que forma tão avassaladora pode ser sentida uma emoção, e como ela pode ter a capacidade de nos aniquilar.
A mente “mente-nos”, e, na depressão, “berra-nos” aos ouvidos diariamente “verdades” delirantes: “Eu não tenho saída”, “Eu não sou capaz”, “Não vale a pena”…
Fazendo uma retrospetiva destes últimos 23 anos, e aliando a minha experiência pessoal à profissional, considero que o que me levou à depressão foi o querer representar um papel que não era o meu ‒ aliás vários papeis ‒ várias personagens para me poder encaixar, para ser aceite e amada. No fundo, para sobreviver.
E é precisamente sobre este sub-tema (representar papéis), dentro do tema tão vasto que é a depressão, que eu quero particularizar um pouco.
Em algum ponto, quando representamos papéis, instala-se uma tristeza silenciosa que ocupa tudo em nós. Por baixo dessa tristeza está, tantas vezes, uma raiva encapsulada que desconhecemos ou nem ousamos olhar sequer porque até nos ensinaram que sentir raiva é algo a evitar, é feio. Há também por baixo dessa tristeza a solidão e o medo. E a angústia e a inércia. Tudo isto mergulha-nos num arrastar em vida que nos rouba a essência e o brilho.
Agarrarmo-nos ao nosso desejo de ser alguém idealizado pelo nosso pai ou mãe, companheiro, irmão, patrão, amigo, dá muito trabalho e requer foco, persistência e resiliência. E também nos mata em vida. Sufoca-nos.
Adaptarmo-nos ao outro para sermos aceites e amados, aniquila não só a nossa espontaneidade assim como a nossa força motriz, e, inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, ficamos doentes.
Obviamente que existem outros fatores, nomeadamente os biológicos, que podem levar-nos à depressão, mas este cenário aqui descrito é um dos possíveis para que possamos cair numa depressão.
Há depressões que nos empurram para vícios, e outras para o sofá. Ambas têm um denominador comum: a fuga. A fuga de nós próprios.
“Tudo a que resiste, persiste!” De facto, não há volta a dar.
Queremos fugir da dor. Como não? Não fomos ensinados a entender que a dor é essencial para o nosso crescimento. Há que aceitar essa dor quando ela vem. Se não o fizermos, ela vai persistir e transformar-se em sofrimento.
Se dói menos aceitar a dor? Biologicamente, sim: quando estamos perto de um colapso ou choque físico, se nos entregarmos, os nossos músculos relaxam, e dessa forma, o impacto do choque é muito menor do que se estivermos em tensão. De um ponto de vista psicológico é igual. Quando entendemos que algumas situações na nossa vida são inevitáveis e que não conseguimos controlar quase nada, podemos relaxar e melhorar significativamente as nossas condições de vida. A boa noticia é a de que podemos controlar a nossa mente.
Na verdade, todos os acontecimentos da nossa vida podem ter um lado “bom” e um lado “mau”.
Podemos pegar na depressão e olhar para ela sob uma outra perspetiva: aproveitá-la como uma oportunidade para fazer uma análise profunda de quem nós somos e o que queremos para a nossa vida.
Se é difícil? É, sem dúvida. Se é impossível? Não é de todo impossível.
Se requer foco, persistência e resiliência criar personagens para encaixarmos e sermos aceites, é uma questão de usarmos esse foco, persistência e resiliência de uma forma sábia para nos libertarmos da ideia de quem somos, criando novos hábitos, revisitando crenças, e alterando os nossos padrões de comportamento. É assim uma questão de controlarmos a nossa mente e usá-la em nosso favor. A nossa vida altera radicalmente quando começamos a usar a nossa mente sábia e poderosa a nosso favor.
Cada caso é um caso. Se sentes que estás a sofrer de stress e/ou de tristeza prolongada, e/ou se suspeitas que estás com uma depressão, procura ajuda. Não obstante as condições particulares de cada pessoa com depressão, fazer uso da capacidade da nossa mente e entrar em ação são condições imprescindíveis para lutar contra a depressão.
Deixo algumas dicas:
1. Ouve o teu Corpo – em vez de hiper-estimulares a tua mente diariamente de compromisso em compromisso, com redes sociais, com relacionamentos que não acrescentam valor. Pára e respira. Dá permissão à sabedoria do teu corpo prestando atenção aos sinais que ele te dá que vêm também em forma de dores físicas e psicológicas. Isto inclui prestares atenção a tudo o que se relacione com o teu corpo, nomeadamente: os teus ciclos de sono, alimentação, vícios e exercício físico. Sê gentil contigo próprio.
2. Pausa – Dá permissão a ti próprio de carregares no “botão da Pausa”, e Descansa. É ok sentires-te mais baixo. Lembra-te: tudo, absolutamente tudo na nossa vida, passa.
3. Alivia os teus fardos – Liberta-te de padrões de comportamento e de relacionamentos que te fazem mal; dos compromissos que já não te fazem sentido mas que, por falta de coragem ou por convenção social, mantêm-se na tua vida.
4. Destapa as tuas Paixões – as do teu momento presente e as que tinhas quando eras criança ou adolescente. Podes usar ou retomar à arte, à dança, aos livros, à música, à meditação, à natureza, à expressão corporal. Com estas atividades estás a desenvolver a tua criatividade e intuição e estás também a ter a oportunidade de expressares as tuas emoções, especialmente aquelas que ainda trazes do teu passado, e que te impedem de avançar.
5. Tira a tua própria Máscara – O que queres realmente para a tua vida? O que é que já não suportas mais? O que é que andas a adiar por medo? O que é que ainda não fizeste por falta de coragem?
6. Apanha Sol e Ar – Especialmente no Inverno, em que há pouco sol e os dias são mais curtos, aproveita sempre que podes a luz, mesmo que não te apeteça, e arranja estratégias que te obriguem a sair de casa.
7. Rituais matinais e antes de dormir – Observa-os. A forma como inicias e terminas o teu dia influi drasticamente no teu dia e, consequentemente, a tua vida.
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