in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2015
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Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.” – Fernando Pessoa
É provável que na sua infância tenha vivido momentos que lhe tenham provocado emoções dolorosas e com as quais, a criança que era, não foi capaz de lidar. Em consequência disso, ela não conseguiu ultrapassar essas vivências e pode ter adotado como verdadeiras, convicções que ainda hoje transporta em si: “há algo de errado comigo”, “não sou capaz”, “não mereço ser feliz” e outras semelhantes.
Essa sua criança interior acabou por esconder-se num canto do seu ser, mas quer tenha noção disso ou não, ela continua a exprimir-se e agir através do adulto que é hoje, influenciando a sua vida, surgindo em situações de stress e de dificuldade, ou fazendo com que não se sinta merecedor do bom que a vida tem para lhe oferecer e sabotando os seus projetos. Ela faz isso para chamar a sua atenção.
Ela pode sentir-se abandonada, ferida, triste, com raiva, mas a verdade é que anseia pela sua presença para se integrar novamente em si, para ser vista, sentida, ouvida e acarinhada. Tudo o que ela lhe pede é que pare uns minutos e lhe dê atenção e amor. Fale com ela, peça-lhe perdão, aceite todas as coisas estúpidas que lhe fez fazer, o medo que carrega, a sua parte tola e ingénua, aceite tudo o que lhe possa ter feito e ame-a, aceitando-a como parte de si que ela é.
O amor, o perdão e a gratidão são as forças terapêuticas mais poderosas que existem, conseguem curar as memórias mais profundas e dolorosas, levando luz aos cantos mais escuros do nosso ser. Por mais dolorosas que tenham sido as nossas vivências, perdoando e amando a nossa criança interior, podemos dar um novo significado a esses eventos e curar-nos de todos os vestígios que possam permanecer no nosso interior. Nós conseguimos, na intimidade da nossa mente e do nosso coração, fazer novas escolhas, adotar perspetivas diferentes e criar novos pensamentos e sentimentos, de perdão, aceitação, gratidão e amor, curando e trazendo até nós essa nossa criança interior e toda a sua alegria e espontaneidade, abrindo novos caminhos para o nosso futuro.
Feche os olhos e imagine a criança que era quando tinha seis ou sete anos. Relembre-se de como era e caso tenha dificuldade, refresque a sua memória vendo algumas fotografias.
Imagina-se a sós no seu quarto de quando tinha essa idade. O que fazia quando estava lá? Visualize essa criança e relembre cada detalhe: os móveis, as paredes, o cheiro, a vista da janela, etc.
Imagine o adulto que é hoje entrar nesse quarto. Ao abrir a porta pode ver a criança que era, talvez cabisbaixa, insegura, magoada, assustada...
O adulto que é hoje aproxima-se da criança, devagar, estando atento às reações dela. Pede-lhe permissão para falar com ela e para se aproximar mais. Se ela autorizar, pode ir para junto dela. Converse com ela, pergunta-lhe como está, o que tem para lhe dizer, como a pode ajudar. Deixe fluir a voz dela, escute o que ela tem para lhe dizer, aceitando, sendo grato pela presença dela em si, perdoando-a, pedindo-lhe perdão e amando-a.
Agora, se ela lhe permitir, pode abraçá-la, beijá-la, acarinhá-la, dar-lhe proteção, apoio e amor. Cuide dela da forma que gostaria que tivessem cuidado de si quando eras essa criança. Diga-lhe que agora ela está segura e que vai cuidar dela com todo o amor que merece.
Brinque com ela! Liberte toda essa autenticidade que guarda aí escondida. Leve-a aquele seu local favorito para brincar e dê-lhe os carinhos de que mais sentiu falta. Divirta-se e faça com que ela também se divirta. Quando ela estiver feliz e se sentir compreendida e amada, leve-a para um lugar onde ela se sinta segura e onde queira ficar.
Despeça-se dela e transmita-lhe que estará atento a ela todos os dias. Sempre que precisar, irá ajudá-la e cuidar dela.
Outro exercício que pode fazer, quando estiver ligado a essa sua criança interior, é pedir-lhe para que desenhe o que está a sentir. Desenhar é uma das formas de expressão preferidas das crianças. Pegue em lápis de cor, papel, e peça à sua criança interior para desenhar como ela vê o adulto que és. Peça-lhe que desenhe momentos e situações específicas como: o que a irrita, o que a entristece, como se sente quando está só, o que a faz feliz, orgulhosa dela própria, espontânea...
Permita-lhe exprimir-se genuinamente. Com este exercício, terá acesso a informações que não conseguiria obter de outra forma.
À medida que a sua relação com a sua criança interior se for tornando mais forte, mostre-lhe o quanto a ama, que respeita a sua personalidade, que sabe brincar e rir com ela e que tem em conta os seus desejos e a sua opinião.
Todos nós precisamos de voltar a ser crianças de vez em quando, deixando que a nossa criança interior se divirta. Não é imaturidade, é uma necessidade.
Deixe essa criança brincar, andar de balouço e rebolar na relva! Deixe-a pular para as poças de água! Deixe-a adormecer a olhar para as estrelas e sonhar com a infinidade de possibilidades que a vida lhe oferece! Deixe-a seguir o seu coração e caminhar em direção aos seus sonhos! Permita-se viver de forma total e plena em comunhão com ela. Só assim será verdadeiramente feliz!
Não caminhe à frente da sua criança interior para a guiar, nem vá atrás dela deixando-se guiar por ela. Caminha ao lado dela, de mãos dadas, fazendo da jornada pela vida uma aprendizagem para si e para ela.
PATRICK AFONSO FORMADOR, COACH, MASTER PRACTITIONER PNL E AUTOR www.facebook.com/PatrickAfonso.Inspira [email protected] in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |