Por Vanda Cartier Soares
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
A paciência é uma caraterística discreta. É o neto que ouve novamente a história repetida e tantas vezes contada pela avó. Contrariamente, a impaciência é imediatamente notada. Exemplo conhecido é a caricatura sobre a noção de nanossegundo, enquanto tempo que demora entre um semáforo ficar verde e o condutor do carro atrás do nosso buzinar para que avancemos.
São vários os benefícios da paciência. Melhora a saúde mental, diminui os níveis de stress, aumenta a empatia e a tolerância para com o outro, facilitando, desta maneira, os relacionamentos pessoais e profissionais. Permite tomar decisões melhores e ajuda a alcançar os objectivos a longo prazo, porque evita a raiva e a ansiedade que levam, muitas vezes, à desistência e ao retrocesso.
Ser paciente, contudo, não significa acomodação ou submissão. Por exemplo, por mais que se queira, não se consegue fazer chover a pedido; E aqueles que insistam nesse querer só podem contar com a raiva e a frustração resultantes de chover apenas quando as condições atmosféricas assim o permitem. Quanto aos outros, aceitando a realidade como ela é, podem pacientemente desviar a sua atenção dos dissabores trazidos pela ausência da chuva e concentrar os seus esforços na procura de alternativas para a falta de água.
Não por acaso, a Paciência, enquanto uma das sete virtudes bíblicas, opõe-se à Ira, que traduz o instinto de agressão dirigido contra tudo aquilo que frustrou indevidamente as nossas expectativas acerca de algo importante.
A impaciência resulta, pois, de uma atitude controladora em relação a mim, ao outro e ao mundo, por querer que tudo aconteça conforme as minhas expectativas: por exemplo, quando espero ser imediatamente atendida num determinado serviço; ou quando buzino para o condutor que circula à minha frente, para este mudar rapidamente de faixa; ou porque assumo que manterei sempre o domínio das minhas emoções; mas às vezes, as coisas não correm bem – e isso não faz mal.
A paciência é sempre testada nas situações-limite. Apenas quando a fronteira do intolerável é ultrapassada, é que podemos medir o grau da nossa paciência.
Existem várias técnicas que ajudam a desenvolver a paciência. Todas requerem uma prática reiterada e constante, porque não será de um dia para o outro que aumentamos a nossa paciência. Também para ser paciente é necessário ter paciência!
A primeira técnica é reconhecer quando se está a ficar impaciente. Como me estou a sentir? Estou a respirar de forma mais acelerada? Tenho o batimento cardíaco mais rápido? O movimento das minhas mãos está mais agitado? Questionando-me desta maneira, trago o mundo das sensações para o mundo do pensamento, acalmando o sentimento doloroso.
A segunda técnica é respirar fundo, contar até dez, parar, afastar-me; tudo aquilo que sempre ouvimos dizer e que, as mais das vezes, não fazemos quando perdemos a paciência; E que ainda assim resulta!
A meditação é outra das técnicas. Através da meditação, treinamos a mente a permanecer em paz.
Gerir o stress promove igualmente a paciência. Todos nós percebemos que, quando estamos relaxados, a nossa resposta perante as dificuldades é mais adequada e tranquila. Ao invés, quando já estamos alterados, qualquer insignificância pode ser a gota de água que faz transbordar o copo.
Identificar quais as situações que me deixam mais impacientes também ajuda. Por exemplo, muitas das vezes o desconforto surge porque eu posso não me sentir à vontade com a situação, e isso faz com que eu pretenda despachar o assunto que tenho para resolver o mais rapidamente possível.
Aprender a adiar a gratificação também contribui para o desenvolvimento da paciência. Neste mundo moderno, do qual o imediatismo é característica essencial, muita da nossa frustração resulta do facto de não alcançarmos já aquilo que pretendemos.
A consideração da importância relativa da situação frustrante pode ajudar igualmente a termos mais paciência. O que tanto me incomoda neste momento irá ter importância daqui a uma semana, um mês, um ano, dez anos? Provavelmente, não...
O próprio reenquadramento da situação frustrante ajuda-nos a ter mais paciência, porque afasta-se da carga negativa que a adversidade provocou. Por exemplo, se estou sentada à mesa num restaurante à espera que me sirvam, posso aproveitar esse tempo para ver as notícias, em vez de me centrar no mau serviço prestado.
Outras técnicas existirão, mas o importante é ter noção de que, quanto mais se treina a paciência, mais rapidamente se produzirão os seus resultados positivos. Para que da próxima vez que o semáforo ficar verde, eu aguardar bem mais do que um nanossegundo para buzinar ao condutor do carro que está à minha frente para que ele arranque.
PSICÓLOGA
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in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2017
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