in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2016
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No entanto, por nos moldarmos a tudo o que nos absorve desde que nascemos, corremos o risco de impedir que a confiança floresça naturalmente.
“Confiar é um pouco como diz a canção: Mesmo sem ver, temos que acreditar”.
Seguindo a premissa que Confiar não é só um verbo, é, antes de mais, uma arte, manobrar a alma e espirito para que a confiança se lhe seja intrínseca exige mestria e inteligência. É preciso saber pintar a tela com as cores mais alegres de modo a que nunca um tom cinza ouse ameaçar o quadro. Mesmo que ele vá dando vislumbres de erosão pela passagem do tempo…
Confiar também pode ser música, apesar de nem sempre ter as notas mais alegres. A harmonia da música e a emoção da mesma está, também, – e tantas vezes – na tristeza que a canção carrega… À medida que debitamos o verbo Confiar - qual melodia cantada na primária - as dúvidas sobre a essência da palavra surgem em catadupa.
O próprio verbo Confiar pede um ponto de interrogação, à medida que o conjugamos. Senão, vejamos: "Eu Confio (?)"; "Tu Confias(?)"; "Ele Confia(?)"e por aí fora, na sua imensidão de significados, porque este verbo é muito mais do que uma simples palavra, é todo o significado intrínseco que lhe queremos atribuir.
O tema da confiança sempre foi assunto delicado. A própria origem da palavra “Confiança” tem como complemento três outros sinónimos com uma carga emocionalmente bastante vincada. Se não, vejamos:
Confiança vem do Latim: CONFIDENTIA, “confiança”, de CONFIDERE (Confiar), “acreditar plenamente, com firmeza”, formada por COM, intensificativo, mais FIDERE, “acreditar, crer”, que deriva de FIDES, “fé”.
E aqui começa a fazer sentido o “mesmo sem ver, acreditar”. A fé é, por si, algo não palpável mas que serve, tantas vezes, de pilar. Ter fé, na verdade, é muito mais do que ter crença numa religião ou doutrina transcendente. Ter fé, acreditar, é confiar, com esperança, que iremos ser sempre leais e fiéis ao que somos, acreditando no que os outros estão dispostos a nos dar.
A confiança anda de mão dada com a aceitação... Se não conseguirmos confiar em nós e no que somos, nunca estaremos verdadeiramente preparados para confiar em alguém nem transmitir confiança seja a quem for. Se não nos aceitarmos e se não confiarmos em nós enquanto ser humano completo, nunca conseguiremos saltar a barreira que nos permite ir ao encontro do fim único que é a felicidade. Ultrapassar barreiras vale a pena. Pela paz interior, pelo que conseguimos dar na forma mais pura e genuína do nosso ser.
Entregar-se plena e abertamente acarreta sempre muitos riscos, o maior deles a perda ou quebra de confiança. Na ingenuidade dos nossos verdes anos, pensamos sempre que amar é um verdadeiro mar de rosas, que não há desilusões e que todos dão e recebem na mesma medida. Vivemos inundados de filmes Hollywoodescos que nos fazem crer que o amor vence sempre e que está reservado um final feliz para cada história. Seja ela uma história de amor entre duas pessoas, entre amigos ou irmãos, entre colegas ou companheiros de viagem. Vivemos assim, nesta crença neutra (porque, na verdade, crer que tudo terá um final feliz sem nada fazer por isso, é acomodar-se), à espera que a confiança se molde a nós e não o contrário. Erramos e erramos e não conseguimos evolução e desenvolvimento enquanto não percebermos a principal entidade em causa: o “Eu” e, só depois, o resto.
Para além de uma arte, Confiar é, também, filosofia de vida. A partir do momento em que a certeza da confiança entra na nossa vida, ganha-se outra dimensão do mundo e arredores.
Saber confiar é saber viver. É saber estar connosco e em sociedade. É saber reconstruir depois das ruínas. É saber esperar pelo momento certo porque nada na vida deveria ser feito com pressa, sob risco de sair um “bolo” sem forma.
A única coisa certa é a mudança. Parte de nós conseguir confiar que nesse processo. E isto é válido tanto para nós como para os outros. Tantas vezes o individualismo é aquilo que nos afasta do que mais precisamos para ser feliz. Ser individualista e não saber confiar nos outros é a maior rasteira que nos podemos passar. Estar abertos aos outros e à partilha é a primeira parte do espetáculo da nossa vida. Se o conseguirmos alcançar, garantidamente que a rampa de lançamento de um bom percurso está traçada.
Mesmo que pairem sempre nós algumas ameaças de chuva (tantas vezes torrencial), a verdade é que deixar para trás sonhos, pessoas, objetivos de vida e de carreira, faz parte da evolução da aprendizagem e da progressão. “Nada se perde, tudo se transforma” e o que nos vai auxiliando é a certeza de que não podemos nunca apagar o que nos passou, tudo fará eternamente parte da nossa existência. Tudo e todos os que por nós passaram. Quando a vida nos permite fazer filtros e, como tal, partir ao meio a realidade que se conhece, estamos “apenas” a ter oportunidade de transformar o caminho. Se a confiança for nossa aliada, certamente que teremos arte do nosso lado… A confiança como tela, a Confiança como melodia, como peça de teatro, como história de cinema…
Está na hora de, em definitivo, tirarmos o ponto de interrogação na conjugação do verbo, no presente (e como um presente...).
Está na hora de afirmar sempre: Eu Confio. Ponto Final.
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