Por Grácia Nunes
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2012
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Diz-se da PAIXÃO que é biológica, mas sendo influenciada essencialmente pela cultura, é vista e sentida de formas e níveis de intensidade diferentes em cada lugar e relação onde acontece, embora mantendo o seu traço mais comum completamente inalterável, uma vez que os "genes" da sua atitude têm continuado ao longo dos séculos, insistentemente infantis e inconsequentes na sua imaturidade e a maior parte das vezes sem a mínima noção da enorme responsabilidade que a natureza lhes confiou, o que torna quase impossível vislumbrar o salto quântico que a fará absorver humildemente a inteligência que necessita, para se humanizar e CRESCER NA LUZ..!
E quanta música romântica a PAIXÃO já dedicou, quanta poesia escreveu, quantos beijos já arrebatou, quanta ternura já conheceu... Mas também quanto desespero já causou, quantas lágrimas já derramou e quantos suicídios já cometeu...
Passamos a vida a desculpá-la como um conjunto de emoções indefesas porque dá involuntariamente folga à razão deixando no lugar de comando um piloto automático incompetente que, se é certo que a pode conduzir por lugares de sonho e proporcionar-lhe uma viagem inesquecível e emocionalmente prazerosa, na sua alternância entre a turbulência e a acalmia, quase sempre a obriga bruscamente a aterrar de emergência na próxima desilusão...
Sempre se disse que a PAIXÃO é cega, mas se não o fosse como sentiríamos atração pelo que é menos belo, menos fantástico, menos interessante aos olhos dos outros? Com muita frequência olhamos um casal de namorados e perguntamos para nós mesmos o que será que ela viu nele ou vice-versa... E sem essa cegueira, como viveríamos em estado de graça e com o coração maravilhosamente a palpitar?
E eu sempre disse que para situações especiais a natureza devia ter inventado as consequências antes das ações... Pois não existe nada mais desagradável do que passarmos pela vida a errar nas nossas escolhas e nestas coisas das paixões como se apenas fossemos colecionadores de sapos que nunca se transformam em príncipes e cinderelas que desaparecem numa meia-noite qualquer...
Inicialmente a PAIXÃO é cega sim, mas vem sempre uma altura em que ela sem querer acende todas as luzes à sua volta para analisar ao pormenor o objeto, situação ou pessoa por quem um dia cega, se deixou deslumbrar... e esse é o momento certo para não lhe facilitarmos a decadência, orientando-a para o que é sensato sem se distanciar minimamente do seu vigor inicial...
Porque a PAIXÃO é simultaneamente forte e encerra dentro de si um poderoso mecanismo de defesa que funciona nas relações como que uma triagem para selecionar e eliminar depois tudo o que lhe parece emocionalmente supérfluo... E é com esse propósito que a devemos deixar fazer experiências repetidamente dentro de nós...
Porque vale mesmo a pena experimentar o momento mágico da sua conceção... Uma fórmula físico-químico-emocional que toma de assalto todos os nossos sentidos e se traduz num desmaio de adoração pelo outro... Esse estado de fascinação onde todas as nossas células e neurónios se deixam possuir num constante e delicioso fazer amor...
Conhecendo-lhe os fracassos e aproveitando-lhe as virtudes... É no terreno dessa intimidade que a paixão pode fazer brilhar dentro de nós o seu mais maravilhoso e fascinante caráter, no deslumbre que podemos APRENDER A DOSEAR com talento e sabedoria permitindo-lhe que se declare vitoriosa como sobrevivente da euforia e impetuosidade e siga gloriosa os parâmetros da racionalidade instalando-se na sua versão mais consciente nos ALICERCES DO AMOR...
Não perca tempo a ser um simples mortal... Deixe-se APAIXONAR!!!
O amor terá de gatinhar na PAIXÃO e cair nos primeiros passos para aprender o equilíbrio.
E não desista se a PAIXÃO nem sempre for séria... Pois tal como a vida, a sua aprendizagem é feita apaixonadamente a brincar...