Biblioterapia - O poder das palavras
De acordo com a etimologia da palavra, «biblioterapia» significa a terapia por meio dos livros. Esta dissecação não é totalmente abrangente, porque não é o livro em si que contribui para a terapia, mas sim as histórias, os contos, a poesia, toda a linguagem simbólica e metafórica que a literatura contém, e que promove o cuidado com o ser.
Como amante das palavras considero a definição criada por Clarice Caldin mais completa e abrangente, a biblioterapia é «o cuidado com o desenvolvimento do ser mediante a leitura, a narração ou dramatização de histórias»[1]. Esta definição é simples e clarificadora, como também coloca o ser humano num processo de desenvolvimento contínuo e autoconsciente.
Importa reforçar que a terapia não é cura. A biblioterapia dá primazia às palavras e ao poder que elas detêm em nós, promovendo o equilíbrio e a harmonia da nossa alma. Também Carla Sousa, defende que «limitar a biblioterapia aos livros é deixar de fora uma parcela significativa da sociedade, que por questões sociais e culturais, não tem capacidade de descodificar o material escrito e impresso». [2] Num mundo cada vez mais exigente e com separações sociais e culturais evidentes, cuidarmos de nós e procurarmos o cuidado geral da população deve ser um sentido de missão partilhado e comum.
A biblioterapia e a história
A biblioterapia não é peculiar e se nos remontarmos ao passado verificamos que existia na narração oral uma intuição terapêutica. Muito antes de existirem livros, as histórias eram transmitidas através da oralidade, o livro veio depois como a compilação dessas mesmas histórias. A capacidade terapêutica do livro é apontada desde antigas civilizações − egípcia, grega, romana −, onde as bibliotecas eram espaços sagrados e cuja leitura possibilitava o alívio de doenças.
Assim, a consciência do poder de cuidar através das histórias não é novidade, o que é novo é a aplicabilidade do conceito grandioso da biblioterapia. Samuel Mcchord Crothers (1916) marcou a conceitualização quando escreveu um artigo, intitulado Literary Clinic. Nele relatava uma experiência de biblioterapia realizada por um amigo padre que administrava doses de literatura para as maleitas das pessoas que o procuravam. Neste artigo Crothers define a literatura como um fundamental «medicamento».
Passaram-se mais de quinze anos desde que escrevi a minha monografia sobre Envolvimento comunitário: promoção da saúde e a prevenção das doenças, também aqui abordei temas como as radionovelas que preveniam doenças e promoviam a saúde mental dos ouvintes, resignificando as preocupações da sociedade e unindo-os em torno da contação de histórias.
Em modo sucinto, escolho mencionar dois conceitos, que se encontram ligados entre si e são o maior contributo da biblioterapia: a literatura e a saúde.
Literatura:
É uma manifestação de linguagem que tem uma finalidade de expressão estética. A literatura não se limita a comunicar, mas também a construir uma ponte entre as palavras e a emoção.
Saúde:
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como «um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças». Isto é, saúde é igual a equilíbrio e bem-estar.
A literatura e a saúde estão assim interligadas. Unidas pela prática de um bem comum: o equilíbrio psíquico e social do ser humano.
Poderia tornar-se demasiado extenso e exaustivo mencionar todos os benefícios da biblioterapia. Saliento alguns que considero pertinente mencionar: provoca a libertação de processos inconscientes; promove a introspeção; melhora o entendimento das emoções; aumenta a autoestima e o autoconhecimento; estimula a criatividade, a mente e a imaginação; elimina o isolamento/solidão; diminui a angústia, a tristeza e a ansiedade; clarifica dificuldades individuais; consciencializa de que os sentimentos são universais criando identificação para com os demais.
As palavras têm assim um impacto incalculável no desenvolvimento humano. Gustave Flaubert disse «leia para viver», eu acrescento «use as palavras para viver bem». A biblioterapia é uma ferramenta de saúde abrangente e pode acolher um enorme número de indivíduos. Aliar a escrita terapêutica à biblioterapia é também contribuir para um «purgar» da alma e a um ressignificar de emoções. As palavras são grandes tochas que nos ajudam a iluminar as nossas almas.
[1] Caldin, Clarice, «Leitura e terapia», 2009, p.6. Tese de doutoramento em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.
[2] Sousa, Carla, «Biblioterapia & Mediação afetuosa da literatura», 2021, p.60. 1. Ed. Florianópolis, SC: Ed. Da Autora, 2021.
Como amante das palavras considero a definição criada por Clarice Caldin mais completa e abrangente, a biblioterapia é «o cuidado com o desenvolvimento do ser mediante a leitura, a narração ou dramatização de histórias»[1]. Esta definição é simples e clarificadora, como também coloca o ser humano num processo de desenvolvimento contínuo e autoconsciente.
Importa reforçar que a terapia não é cura. A biblioterapia dá primazia às palavras e ao poder que elas detêm em nós, promovendo o equilíbrio e a harmonia da nossa alma. Também Carla Sousa, defende que «limitar a biblioterapia aos livros é deixar de fora uma parcela significativa da sociedade, que por questões sociais e culturais, não tem capacidade de descodificar o material escrito e impresso». [2] Num mundo cada vez mais exigente e com separações sociais e culturais evidentes, cuidarmos de nós e procurarmos o cuidado geral da população deve ser um sentido de missão partilhado e comum.
A biblioterapia e a história
A biblioterapia não é peculiar e se nos remontarmos ao passado verificamos que existia na narração oral uma intuição terapêutica. Muito antes de existirem livros, as histórias eram transmitidas através da oralidade, o livro veio depois como a compilação dessas mesmas histórias. A capacidade terapêutica do livro é apontada desde antigas civilizações − egípcia, grega, romana −, onde as bibliotecas eram espaços sagrados e cuja leitura possibilitava o alívio de doenças.
Assim, a consciência do poder de cuidar através das histórias não é novidade, o que é novo é a aplicabilidade do conceito grandioso da biblioterapia. Samuel Mcchord Crothers (1916) marcou a conceitualização quando escreveu um artigo, intitulado Literary Clinic. Nele relatava uma experiência de biblioterapia realizada por um amigo padre que administrava doses de literatura para as maleitas das pessoas que o procuravam. Neste artigo Crothers define a literatura como um fundamental «medicamento».
Passaram-se mais de quinze anos desde que escrevi a minha monografia sobre Envolvimento comunitário: promoção da saúde e a prevenção das doenças, também aqui abordei temas como as radionovelas que preveniam doenças e promoviam a saúde mental dos ouvintes, resignificando as preocupações da sociedade e unindo-os em torno da contação de histórias.
Em modo sucinto, escolho mencionar dois conceitos, que se encontram ligados entre si e são o maior contributo da biblioterapia: a literatura e a saúde.
Literatura:
É uma manifestação de linguagem que tem uma finalidade de expressão estética. A literatura não se limita a comunicar, mas também a construir uma ponte entre as palavras e a emoção.
Saúde:
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como «um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças». Isto é, saúde é igual a equilíbrio e bem-estar.
A literatura e a saúde estão assim interligadas. Unidas pela prática de um bem comum: o equilíbrio psíquico e social do ser humano.
Poderia tornar-se demasiado extenso e exaustivo mencionar todos os benefícios da biblioterapia. Saliento alguns que considero pertinente mencionar: provoca a libertação de processos inconscientes; promove a introspeção; melhora o entendimento das emoções; aumenta a autoestima e o autoconhecimento; estimula a criatividade, a mente e a imaginação; elimina o isolamento/solidão; diminui a angústia, a tristeza e a ansiedade; clarifica dificuldades individuais; consciencializa de que os sentimentos são universais criando identificação para com os demais.
As palavras têm assim um impacto incalculável no desenvolvimento humano. Gustave Flaubert disse «leia para viver», eu acrescento «use as palavras para viver bem». A biblioterapia é uma ferramenta de saúde abrangente e pode acolher um enorme número de indivíduos. Aliar a escrita terapêutica à biblioterapia é também contribuir para um «purgar» da alma e a um ressignificar de emoções. As palavras são grandes tochas que nos ajudam a iluminar as nossas almas.
[1] Caldin, Clarice, «Leitura e terapia», 2009, p.6. Tese de doutoramento em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.
[2] Sousa, Carla, «Biblioterapia & Mediação afetuosa da literatura», 2021, p.60. 1. Ed. Florianópolis, SC: Ed. Da Autora, 2021.
CLÁUDIA PASSARINHO
ESCRITORA, FORMADORA E
BIBLIOTERAPEUTA
Instagram: claudiapassarinho_w
Facebook: Claudia Sofia Passarinho
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2024
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
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