Apaixonaram-se e foram aprendendo a Amar... |
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A palavra MITO advém do grego
“mythos”, que significa narrativa ou lenda. Num sentido geral é uma crença
imaginária baseada na credulidade daqueles que a aceitam.
Os mitos têm importantes funções sociais, já que asseguram a coesão do grupo e fundamentam e regulam condutas. Um dos mitos que está embebido na nossa sociedade, e que se enraizaram em muitos de nós (como crença profunda), é a de que os relacionamentos são como a histórias das princesas, onde o príncipe salva a princesa e vivem felizes para sempre… (com ou sem cavalo branco…) Assim… quando acreditamos que as relações são: “apaixonaram-se e viveram felizes para sempre…”, como temos vindo a ser condicionados a acreditar por histórias infantis, pela sociedade, por telenovelas, livros e filmes “cor-de-rosa”, custa-nos perceber porque é que as Nossas relações não são assim e culpamo-nos, apontamo-nos o dedo e perguntamos o que é que está errado connosco ou com o outro (ou outros, ou vários, muitos…). E quando de facto começam a ser vários, muitos… que tal contestar a premissa em vez de nos contestarmos tanto? O ser humano é engraçado… batemos com a cabeça nas paredes quando achamos que não sabemos o porque mas, quando achamos que sabemos o porque, aceitamos e libertamo-nos… Isto pode acontecer precisamente com os relacionamentos, e com a forma como os vivemos e experienciamos. Se alterarmos esta nossa premissa poderemos ser mais livres nos relacionamentos, vivê-los com maior tranquilidade e aceitação… Que tal em vez de acreditarmos que os relacionamentos são: “apaixonaram-se e viveram felizes para sempre…” acreditarmos que os relacionamentos são constituídos por várias fases que têm como objetivo conhecermo-nos cada vez melhor a nós e aos outros, irmos ao encontro da nossa essência e aprendermos a Amar. Que tal substituir a crença “apaixonaram-se e viveram felizes para sempre…” por “apaixonaram-se e foram aprendendo a Amar…” As histórias das princesas e muitas outras histórias de “Amor” podem ser muito bonitas mas contam apenas a primeira fase dos relacionamentos… a fase da paixão, acabam antes dos filhos e das fraldas (se houver), essencialmente acabam antes de percebermos que o outro não é como nós… Assim, depois da primeira fase de paixão e do romance, vem a fase do compromisso à qual se segue a fase da confrontação com a realidade. Esta inicia quando percebemos que afinal o outro não é igual a nós, não nos vai satisfazer todas as necessidades, não nos sabe ler a mente, nem vai fazer tudo o que queremos quando queremos… Gera-se a primeira desilusão, somos confrontados com a… Realidade! Neste momento alguns saltam fora… mas quem continua na relação vai iniciar uma nova fase. A fase da aprendizagem. Na fase da aprendizagem podemos: 1) continuar o braço de ferro para transformar o outro e a relação no que nós queremos, ou 2) Aceitar o convite que nos é feito para aprender e crescer. Podemos encarar de frente as questões emocionais que se nos deparam e resolve-las. Sabendo que cada vez que resolvemos uma questão emocional esta deixa de exercer poder (sofrimento) sobre nós, o que nos traz paz, tranquilidade, crescimento e expansão. Podemos optar por “fugir” permanecendo emocionalmente no mesmo lugar, o que potencialmente nos trará as mesmas questões para resolver uma e outra vez… Mas, optando pela coragem, cada vez que ultrapassamos um medo ou um drama emocional, mais nos aceitamos a nós e ao outro. Ficaremos cada vez mais perto da nossa essência e aumentaremos a nossa capacidade de Amar. Esta fase de aprendizagem não é necessariamente pacífica (geralmente não é…), existirão situações de resistência e de confrontação, onde as nossas personalidades lutam para ficar onde estão. Quando nos escutamos (e ao outro), quando nos questionamos, quando dialogamos, quando centramos a nossa atenção no que realmente se está a passar, no que está por trás de cada diferendo, mais facilmente chegamos à aceitação e à última fase da relação… a transformação. Após a fase de aprendizagem, da luta, do caos e do desespero… de repente (que não é nada de repente mas parece)… crescemos, aceitamos e transformamo-nos. Libertamo-nos de queixas emocionais, da luta pelo poder, de dependências. A partir desse ponto somos uma pessoa com mais capacidade, mais madura, essencialmente com maior capacidade de Amar (a nós e aos outros). Muitas vezes estas aprendizagens fazem-se em vários relacionamentos, seja porque os ressentimentos que foram surgindo na fase da aprendizagem não se conseguiram ultrapassar, seja porque cada um cresceu em sentidos ou com ritmos diferentes, seja porque o que cada um tinha a aprender foi aprendido, e cada um percebe que o outro evoluirá mais numa outra relação e “separam-se” em Amor, ou por qualquer outra razão… outras vezes o crescimento faz-se num só relacionamento. No entanto creio que o mais importante a reter é que se encararmos as relações como processos de crescimento, que naturalmente podem incluir dor emocional, se encararmos as relações como processos para aprendermos a Amar de forma pura, que passam naturalmente por várias fases mais e menos dolorosas (e não como nos contos de fadas) conseguiremos encarar essas mesmas fases com maior aceitação e com maior tranquilidade, aprendendo de forma menos sofrida, com maior paixão, compaixão e Amor… Pedro Sciaccaluga Fernandes Mais artigos do mesmo Autor aqui |
Foto por Tiago Sousa
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