Como as crianças lidam com a morte
A morte é um processo natural que faz parte integrante da vida de qualquer ser-humano e também da vida das crianças!
As experiências de perda são algo que iremos vivenciar sempre, em qualquer momento da nossa vida.
Quando somos mais pequenos e se a perda for de alguém muito próximo, nomeadamente pai ou mãe, provoca um grande impacto na vida das crianças e pode mesmo alterar a forma como vêm, sentem e percecionam o mundo à sua volta. É uma dor muito grande, para além do imaginável, perder um dos pais em criança. É como se a vida nos estivesse a tirar o tapete debaixo dos pés, sem nos entregar nada que possa preencher esse vazio…. Mesmo como psicoterapeuta, fico sempre mexida, muito mexida, quando acompanho miúdos que estão para perder, ou perderam recentemente um dos pais. Ainda assim, por mais doloroso que seja, é preciso sempre explicar, falar com verdade, abrir o coração, para que as próprias crianças sintam que podem fazer o mesmo. Os pais, não devem fugir de falar sobre o assunto, com as palavras e conceitos adequados à faixa etária de cada criança, permitir que estejam integradas em todo o processo e respeitando os passos que ainda não conseguem dar. Por exemplo, depois da morte de um dos pais, as crianças podem ter dificuldade em voltar para enfrentar o mundo da escola, dos amigos…. É preciso ter bom senso na forma como respeitamos essa dificuldade e a forma como reforçamos e damos segurança para que sejam capazes de voltar a encarar a vida novamente. Uma vida que é agora um espaço novo, porque lhes falta uma das pedras essenciais da sua vida e provavelmente nunca imaginaram que teriam que se preparar e se fortalecer para isso. Um passo de cada vez, sem desistir do propósito final, é sempre um bom guia!
A morte já é por si só um trauma e não podemos acrescentar outros porque não conseguimos explicar aos nossos filhos que alguém partiu, porque não lhes demos a oportunidade de se despedirem, porque não explicamos a situação de forma clara e deixamos campo aberto para que se criem fantasias que são sempre piores do que a realidade e acarretam muitas vezes sentimentos de culpa inexplicáveis, mas que muitas vezes vivem no coração dos mais novos…. A minha mãe foi embora porque eu me portei mal ou ainda estou à espera que o meu pai volte, são exemplos do que as crianças por vezes sentem, quando não estão perfeitamente conscientes da situação.
A criança só começa a ter a noção da morte a partir dos 5 anos de idade, pelo menos como algo definitivo. Até essa idade, o conceito de morte está mais associado ao medo de ficar sozinho e afastar-se de alguém que é muito importante na sua vida. Ainda assim é imprescindível que as crianças compreendam, de forma correta para a sua idade que o pai ou a mãe não podem voltar.
Ouvi uma vez uma criança de 3 anos que esperava que a mãe viesse do céu, porque lhe tinha sido explicado que a mãe tinha ido viajar para o céu. Como com 3 anos não sabemos se o céu é um paraíso com praia e sol, ou se é um lugar do qual não podemos voltar, acabamos por induzir a criança em erro e aumentar a angústia e ansiedade da situação.
Entre os 5 e os 8 anos, já começam a perceber a morte, mas como alguma coisa má, imutável, mas não compreendem a morte como algo associado à funcionalidade do corpo. Só a partir dos 9 anos é que realmente já conseguem conceber a morte como algo inevitável.
Independentemente da idade da criança, é fundamental que possa vivenciar e ser compreendida em todas as fases do luto:
As 5 fases do luto
· Negação - É difícil entender e aceitar a perda. Parece que estamos a viver um “filme” e que no dia seguinte vamos acordar e a nossa vida terá voltado ao normal. Temos tendência a racionalizar a situação e minimizar o impacto que ela tem e terá nas nossas vidas, negando o ocorrido;
· Raiva - Direcionamos a raiva a todos os que nos rodeiam e que nos são próximos. Podemos também sentir raiva de nós próprios por não ter feito as coisas de forma diferente, acabando por nos culpabilizarmos. É muito comum, as crianças ficarem com situações mal resolvidas dentro de si próprias e é muito importante que sintam abertura para conversar e fazer todas as perguntas que sintam necessidade;
· 3º Negociação - Nesta fase compreendemos que a raiva que sentimos não muda o acontecimento. Ficamos numa espécie de “negociação” e reflexão interna de forma a adquirirmos mais paz interior e serenidade.
· Depressão - Depois de uma perda, é normal que haja a sensação de cansaço extremo. Sentimos muita tristeza e choro fácil. Ficamos mais silenciosos e podemos até ter alterações no apetite ou no sono. Ficamos emocionalmente mais fragilizados.
· Aceitação - A tristeza e a saudade podem ainda estar presentes nesta fase, mas já começa a ser possível pensar no futuro e sentir esperança e alegria. Conseguimos voltar a sentir emoções serenas e a estar predisposto para a mudança.
O tempo que cada pessoa demora a fazer o luto é muito variável e não existe um tempo certo ou errado. Fundamental é que estejamos nesse caminho, que a família ajude a criança a sentir as suas dores, a verbalizar o que a preocupa ou angústia, que possam chorar sempre que precisam (acontece sobretudo à noite quando acabam as atividades que os distraem) e que falem da pessoa que partiu para que as memórias façam com que permaneça viva dentro deles.
Um dia tive uma menina de 7 anos que tinha perdido a mãe há menos de 1 ano a dizer-me que estava com o coração apertado porque a imagem da mãe já não estava clara dentro de si, era como se já estivesse envolta por uma neblina que provoca mais saudade e tristeza. Nesse momento, combinamos e fizemos um cartaz cheio de fotografias da mãe, que colocou no seu quarto e ajudou a que a memória ficasse mais presente dentro dela e a imagem menos apagada.
Como cada criança é uma criança, fundamental mesmo, é estarmos atentos às suas necessidades e respeitarmos a individualidade de cada um, definindo estratégias diferentes (mesmo entre irmãos) que vão ao encontro da forma como podem ou conseguem vivenciar estes momentos.
Lembramo-nos que os pais são eternos dentro de nós, cultivarmos as memórias, as histórias e as recordações enquanto rimos e choramos nessa partilha é mesmo a única forma de ir fazendo o luto e de manter sempre essas pessoas tão importantes vivas dentro de nós…
As experiências de perda são algo que iremos vivenciar sempre, em qualquer momento da nossa vida.
Quando somos mais pequenos e se a perda for de alguém muito próximo, nomeadamente pai ou mãe, provoca um grande impacto na vida das crianças e pode mesmo alterar a forma como vêm, sentem e percecionam o mundo à sua volta. É uma dor muito grande, para além do imaginável, perder um dos pais em criança. É como se a vida nos estivesse a tirar o tapete debaixo dos pés, sem nos entregar nada que possa preencher esse vazio…. Mesmo como psicoterapeuta, fico sempre mexida, muito mexida, quando acompanho miúdos que estão para perder, ou perderam recentemente um dos pais. Ainda assim, por mais doloroso que seja, é preciso sempre explicar, falar com verdade, abrir o coração, para que as próprias crianças sintam que podem fazer o mesmo. Os pais, não devem fugir de falar sobre o assunto, com as palavras e conceitos adequados à faixa etária de cada criança, permitir que estejam integradas em todo o processo e respeitando os passos que ainda não conseguem dar. Por exemplo, depois da morte de um dos pais, as crianças podem ter dificuldade em voltar para enfrentar o mundo da escola, dos amigos…. É preciso ter bom senso na forma como respeitamos essa dificuldade e a forma como reforçamos e damos segurança para que sejam capazes de voltar a encarar a vida novamente. Uma vida que é agora um espaço novo, porque lhes falta uma das pedras essenciais da sua vida e provavelmente nunca imaginaram que teriam que se preparar e se fortalecer para isso. Um passo de cada vez, sem desistir do propósito final, é sempre um bom guia!
A morte já é por si só um trauma e não podemos acrescentar outros porque não conseguimos explicar aos nossos filhos que alguém partiu, porque não lhes demos a oportunidade de se despedirem, porque não explicamos a situação de forma clara e deixamos campo aberto para que se criem fantasias que são sempre piores do que a realidade e acarretam muitas vezes sentimentos de culpa inexplicáveis, mas que muitas vezes vivem no coração dos mais novos…. A minha mãe foi embora porque eu me portei mal ou ainda estou à espera que o meu pai volte, são exemplos do que as crianças por vezes sentem, quando não estão perfeitamente conscientes da situação.
A criança só começa a ter a noção da morte a partir dos 5 anos de idade, pelo menos como algo definitivo. Até essa idade, o conceito de morte está mais associado ao medo de ficar sozinho e afastar-se de alguém que é muito importante na sua vida. Ainda assim é imprescindível que as crianças compreendam, de forma correta para a sua idade que o pai ou a mãe não podem voltar.
Ouvi uma vez uma criança de 3 anos que esperava que a mãe viesse do céu, porque lhe tinha sido explicado que a mãe tinha ido viajar para o céu. Como com 3 anos não sabemos se o céu é um paraíso com praia e sol, ou se é um lugar do qual não podemos voltar, acabamos por induzir a criança em erro e aumentar a angústia e ansiedade da situação.
Entre os 5 e os 8 anos, já começam a perceber a morte, mas como alguma coisa má, imutável, mas não compreendem a morte como algo associado à funcionalidade do corpo. Só a partir dos 9 anos é que realmente já conseguem conceber a morte como algo inevitável.
Independentemente da idade da criança, é fundamental que possa vivenciar e ser compreendida em todas as fases do luto:
As 5 fases do luto
· Negação - É difícil entender e aceitar a perda. Parece que estamos a viver um “filme” e que no dia seguinte vamos acordar e a nossa vida terá voltado ao normal. Temos tendência a racionalizar a situação e minimizar o impacto que ela tem e terá nas nossas vidas, negando o ocorrido;
· Raiva - Direcionamos a raiva a todos os que nos rodeiam e que nos são próximos. Podemos também sentir raiva de nós próprios por não ter feito as coisas de forma diferente, acabando por nos culpabilizarmos. É muito comum, as crianças ficarem com situações mal resolvidas dentro de si próprias e é muito importante que sintam abertura para conversar e fazer todas as perguntas que sintam necessidade;
· 3º Negociação - Nesta fase compreendemos que a raiva que sentimos não muda o acontecimento. Ficamos numa espécie de “negociação” e reflexão interna de forma a adquirirmos mais paz interior e serenidade.
· Depressão - Depois de uma perda, é normal que haja a sensação de cansaço extremo. Sentimos muita tristeza e choro fácil. Ficamos mais silenciosos e podemos até ter alterações no apetite ou no sono. Ficamos emocionalmente mais fragilizados.
· Aceitação - A tristeza e a saudade podem ainda estar presentes nesta fase, mas já começa a ser possível pensar no futuro e sentir esperança e alegria. Conseguimos voltar a sentir emoções serenas e a estar predisposto para a mudança.
O tempo que cada pessoa demora a fazer o luto é muito variável e não existe um tempo certo ou errado. Fundamental é que estejamos nesse caminho, que a família ajude a criança a sentir as suas dores, a verbalizar o que a preocupa ou angústia, que possam chorar sempre que precisam (acontece sobretudo à noite quando acabam as atividades que os distraem) e que falem da pessoa que partiu para que as memórias façam com que permaneça viva dentro deles.
Um dia tive uma menina de 7 anos que tinha perdido a mãe há menos de 1 ano a dizer-me que estava com o coração apertado porque a imagem da mãe já não estava clara dentro de si, era como se já estivesse envolta por uma neblina que provoca mais saudade e tristeza. Nesse momento, combinamos e fizemos um cartaz cheio de fotografias da mãe, que colocou no seu quarto e ajudou a que a memória ficasse mais presente dentro dela e a imagem menos apagada.
Como cada criança é uma criança, fundamental mesmo, é estarmos atentos às suas necessidades e respeitarmos a individualidade de cada um, definindo estratégias diferentes (mesmo entre irmãos) que vão ao encontro da forma como podem ou conseguem vivenciar estes momentos.
Lembramo-nos que os pais são eternos dentro de nós, cultivarmos as memórias, as histórias e as recordações enquanto rimos e choramos nessa partilha é mesmo a única forma de ir fazendo o luto e de manter sempre essas pessoas tão importantes vivas dentro de nós…