Entrevista a Álvaro Sardinha
“Nascemos para evoluir, isso é inevitável”
A Workub é uma plataforma de competências para profissionais e empresas, na qual se podem oferecer e encontrar projetos e parceiros para negócios. Em entrevista à REVISTA PROGREDIR, Álvaro Sardinha, fundador da Workub, explicou a importância dos perfis de competências numa altura em que os currículos e os empregos para a vida parecem ter os dias contados. Entrevista por Sofia Frazoa e Fotos por Joana Aguiam
PROGREDIR: Qual é a mais-valia da plataforma Workub em relação às outras formas de recrutamento?
Álvaro Sardinha: Primeiro, não tem anúncios nem currículos, baseia-se em perfis de competências. Segundo, é universal. Toda a informação que as pessoas aqui colocam fica visível globalmente, em qualquer ponto do mundo. A criação de perfis de competências, seja das empresas seja das pessoas, é totalmente gratuita, apesar de a plataforma ter outros serviços que são pagos. Essa visibilidade pode fazer toda a diferença para alguém que está desempregado ou para uma empresa que procura parceiros de negócio ou internacionalização.
PROGREDIR: Porque é que enviar currículos já não resulta?
Álvaro Sardinha: Porque as empresas não têm tempo. Todas as empresas de hoje estão a tornar-se mais ágeis e, com isso, a ficarem mais pequenas. Por outro lado, nos tempos que correm, com estas taxas elevadas de desemprego, assim que uma empresa coloca um anúncio, é sufocada com milhares de currículos que vêm em formatos diferentes, o que causa uma grande dificuldade na sua interpretação. Muitas recebem currículos que não correspondem sequer ao perfil dos anúncios. As empresas têm dificuldade em gerir este volume de informação. Qualquer empresa que comece hoje um concurso vai demorar uma semana, pelo menos, a tratar a informação e a tirar alguma conclusão. Estes custos são proibitivos nos dias de hoje. As empresas têm de ser muito mais eficientes e eficazes e têm de chegar às pessoas de uma forma mais inteligente. E esse processo não é claramente pela via anúncios-currículo.
PROGREDIR: É pela via do perfil de competências? O que significa isso?
Álvaro Sardinha: O perfil de competências é algo que nasce num chamado sistema de gestão por competências. Foi criado para gerir bem pessoas, principalmente nas grandes empresas onde há mil, duas mil pessoas. Os perfis de competências ajudam a clarificar quais são as funções de cada área e, com isso, as pessoas sabem qual é o caminho que têm de percorrer em termos de desenvolvimento pessoal para irem para esta ou para aquela área. Um perfil de competências acaba por ser uma estrutura universal baseada em três pilares: Saber, que são os conhecimentos que a pessoa adquire ao longo da vida; Saber Fazer, que são as experiências, aquilo que a pessoa já fez ou tem capacidade para começar a fazer de imediato; Saber Ser, que são competências transversais, que têm a ver com o caráter, com a personalidade, características muito próprias que se desenvolvem de acordo com as suas experiências de vida. Estes três pilares formam o chamado perfil de competências, que tem a virtude, comparativamente ao currículo, de ser universal.
PROGREDIR: Qual é a mais-valia da plataforma Workub em relação às outras formas de recrutamento?
Álvaro Sardinha: Primeiro, não tem anúncios nem currículos, baseia-se em perfis de competências. Segundo, é universal. Toda a informação que as pessoas aqui colocam fica visível globalmente, em qualquer ponto do mundo. A criação de perfis de competências, seja das empresas seja das pessoas, é totalmente gratuita, apesar de a plataforma ter outros serviços que são pagos. Essa visibilidade pode fazer toda a diferença para alguém que está desempregado ou para uma empresa que procura parceiros de negócio ou internacionalização.
PROGREDIR: Porque é que enviar currículos já não resulta?
Álvaro Sardinha: Porque as empresas não têm tempo. Todas as empresas de hoje estão a tornar-se mais ágeis e, com isso, a ficarem mais pequenas. Por outro lado, nos tempos que correm, com estas taxas elevadas de desemprego, assim que uma empresa coloca um anúncio, é sufocada com milhares de currículos que vêm em formatos diferentes, o que causa uma grande dificuldade na sua interpretação. Muitas recebem currículos que não correspondem sequer ao perfil dos anúncios. As empresas têm dificuldade em gerir este volume de informação. Qualquer empresa que comece hoje um concurso vai demorar uma semana, pelo menos, a tratar a informação e a tirar alguma conclusão. Estes custos são proibitivos nos dias de hoje. As empresas têm de ser muito mais eficientes e eficazes e têm de chegar às pessoas de uma forma mais inteligente. E esse processo não é claramente pela via anúncios-currículo.
PROGREDIR: É pela via do perfil de competências? O que significa isso?
Álvaro Sardinha: O perfil de competências é algo que nasce num chamado sistema de gestão por competências. Foi criado para gerir bem pessoas, principalmente nas grandes empresas onde há mil, duas mil pessoas. Os perfis de competências ajudam a clarificar quais são as funções de cada área e, com isso, as pessoas sabem qual é o caminho que têm de percorrer em termos de desenvolvimento pessoal para irem para esta ou para aquela área. Um perfil de competências acaba por ser uma estrutura universal baseada em três pilares: Saber, que são os conhecimentos que a pessoa adquire ao longo da vida; Saber Fazer, que são as experiências, aquilo que a pessoa já fez ou tem capacidade para começar a fazer de imediato; Saber Ser, que são competências transversais, que têm a ver com o caráter, com a personalidade, características muito próprias que se desenvolvem de acordo com as suas experiências de vida. Estes três pilares formam o chamado perfil de competências, que tem a virtude, comparativamente ao currículo, de ser universal.
PROGREDIR: Os empregadores procuram realmente o Saber, Saber Fazer e Saber Ser ou procuram mais um saber do que outro?
Álvaro Sardinha: Muitas empresas utilizam já este sistema internamente. A Workub, no fundo, é algo que boas empresas em Portugal e em todo o mundo já estão a utilizar, que é gerir pessoas por perfis de competências. Inclusive, dentro das próprias empresas, que às vezes são grandes, procura-se alguém para ocupar um lugar e vai-se buscar pessoas que estão noutras unidades e são localizadas pelas competências. É um sistema ótimo de dar resposta a um determinado tipo de questões. O currículo não tem a maleabilidade de conseguir identificar várias áreas e de comparar aspetos entre pessoas. As empresas têm todas as vantagens em ter essa pesquisa por estes pontos notáveis, que são aqueles que elas procuram. A diferença é esta: num perfil de competências, se eu for um empregador, consigo em cinco minutos localizar pessoas para uma determinada função, se colocar anúncio e tiver de processar os currículos, posso levar uma semana.
PROGREDIR: Qual tem sido o sucesso da plataforma Workub, desde que começou a funcionar em Abril deste ano?
Álvaro Sardinha: Tem vindo a crescer. Estão quase nove mil pessoas dentro da plataforma devido à sua estrutura inovadora. É um processo que vai precisar de tempo e de um trabalho de educação porque a maior parte das pessoas em Portugal não está preparada para este conceito de um perfil de competências. Estamos a falar de uma mudança de paradigma, é uma forma diferente de encontrar recursos para determinadas funções, não é o modelo vigente. É um modelo alternativo, inovador e muito vantajoso para as empresas porque é muito ágil, permite uma grande mobilidade, uma grande rapidez de execução e uma série de ferramentas adicionais que não têm a ver com o emprego. Agora, é preciso educar o mercado. Este é um projeto de longo prazo, que é preciso que cresça em número de utilizadores. O número de utilizadores vai começar a trazer empresas especializadas em recrutamento para colocar essas pessoas nos empregos.
PROGREDIR: Já há algum feedback positivo de quem tenha conseguido encontrar emprego através da plataforma?
Álvaro Sardinha: Sabemos que há muito movimento, mas não temos ainda identificado alguém que tenha conseguido resolver uma determinada situação. Temos acompanhado algumas empresas que fazem recrutamento, mas chegamos a um ponto em que não sabemos se elas contratam ou não. Não é o nosso objetivo. Aqui promovemos o encontro entre quem procura e quem precisa, a partir daí não temos mais responsabilidade. Mas sabemos que há muita utilização da plataforma, surpreendentemente até da parte do empreendedorismo. Muitas pessoas estão a colocar oportunidades e estão a propagar em todo o mundo essas ideias. Pela parte do emprego há muito interesse nas empresas de recrutamento.
Álvaro Sardinha: Muitas empresas utilizam já este sistema internamente. A Workub, no fundo, é algo que boas empresas em Portugal e em todo o mundo já estão a utilizar, que é gerir pessoas por perfis de competências. Inclusive, dentro das próprias empresas, que às vezes são grandes, procura-se alguém para ocupar um lugar e vai-se buscar pessoas que estão noutras unidades e são localizadas pelas competências. É um sistema ótimo de dar resposta a um determinado tipo de questões. O currículo não tem a maleabilidade de conseguir identificar várias áreas e de comparar aspetos entre pessoas. As empresas têm todas as vantagens em ter essa pesquisa por estes pontos notáveis, que são aqueles que elas procuram. A diferença é esta: num perfil de competências, se eu for um empregador, consigo em cinco minutos localizar pessoas para uma determinada função, se colocar anúncio e tiver de processar os currículos, posso levar uma semana.
PROGREDIR: Qual tem sido o sucesso da plataforma Workub, desde que começou a funcionar em Abril deste ano?
Álvaro Sardinha: Tem vindo a crescer. Estão quase nove mil pessoas dentro da plataforma devido à sua estrutura inovadora. É um processo que vai precisar de tempo e de um trabalho de educação porque a maior parte das pessoas em Portugal não está preparada para este conceito de um perfil de competências. Estamos a falar de uma mudança de paradigma, é uma forma diferente de encontrar recursos para determinadas funções, não é o modelo vigente. É um modelo alternativo, inovador e muito vantajoso para as empresas porque é muito ágil, permite uma grande mobilidade, uma grande rapidez de execução e uma série de ferramentas adicionais que não têm a ver com o emprego. Agora, é preciso educar o mercado. Este é um projeto de longo prazo, que é preciso que cresça em número de utilizadores. O número de utilizadores vai começar a trazer empresas especializadas em recrutamento para colocar essas pessoas nos empregos.
PROGREDIR: Já há algum feedback positivo de quem tenha conseguido encontrar emprego através da plataforma?
Álvaro Sardinha: Sabemos que há muito movimento, mas não temos ainda identificado alguém que tenha conseguido resolver uma determinada situação. Temos acompanhado algumas empresas que fazem recrutamento, mas chegamos a um ponto em que não sabemos se elas contratam ou não. Não é o nosso objetivo. Aqui promovemos o encontro entre quem procura e quem precisa, a partir daí não temos mais responsabilidade. Mas sabemos que há muita utilização da plataforma, surpreendentemente até da parte do empreendedorismo. Muitas pessoas estão a colocar oportunidades e estão a propagar em todo o mundo essas ideias. Pela parte do emprego há muito interesse nas empresas de recrutamento.
PROGREDIR: No início, a arquitetura era uma das áreas principais da plataforma. Continua a ser a que tem mais pessoas inscritas?
Álvaro Sardinha: A plataforma tem recebido muitos registos de arquitetos, engenheiros civis, gestores e designers. Assim que qualquer utilizador se regista, recebe logo um e-mail de boas vindas com informação estatística da distribuição de pessoas e empresas por atividades para que possa ter uma noção do que está a acontecer. Também tem a ver com a profissão. Na área de gestão as pessoas sabem o que é o perfil de competências, na área de fotografia poderão não saber. Portanto, aqui é preciso o tal processo de educação que estamos a tentar fazer através dos gabinetes de inserção profissional, que fazem um apoio local das pessoas. Porque compreendemos que temos aqui uma ferramenta simples, mas complexa. O conceito não é propriamente o mais comum.
PROGREDIR: O objetivo da Workub é fazer a diferença também do ponto de vista social?
Álvaro Sardinha: Eu costumo dizer que a Workub, se não fosse um projeto de responsabilidade social, não tinha nascido sequer. Nem tinha continuado porque os obstáculos têm sido tantos que, se fosse um projeto financeiro, eu já tinha desistido há imenso tempo. A energia que eu tenho para este projeto vem dessa parte de perceber que, de alguma forma, pode fazer a diferença na vida das pessoas. Nos tempos que correm temos mesmo de começar a pensar em comunidade, que não estamos isolados, temos de começar a pensar nas outras pessoas numa perspetiva de como podemos ajudar. Normalmente não é isso que acontece. Mas quando as coisas começam a ficar difíceis, as dificuldades, mais tarde ou mais cedo, vão aparecer para todos de múltiplas formas. É preciso que as pessoas comecem a desenvolver um propósito. É preciso garantirmos um certo equilíbrio e um equilíbrio na comunidade em que estamos inseridos. E esse equilíbrio é uma responsabilidade também de ter um papel ativo junto das pessoas que nos rodeiam. Esse talvez seja o ponto de energia do projeto porque, financeiramente, vai demorar muito tempo até começar a atingir resultados.
Álvaro Sardinha: A plataforma tem recebido muitos registos de arquitetos, engenheiros civis, gestores e designers. Assim que qualquer utilizador se regista, recebe logo um e-mail de boas vindas com informação estatística da distribuição de pessoas e empresas por atividades para que possa ter uma noção do que está a acontecer. Também tem a ver com a profissão. Na área de gestão as pessoas sabem o que é o perfil de competências, na área de fotografia poderão não saber. Portanto, aqui é preciso o tal processo de educação que estamos a tentar fazer através dos gabinetes de inserção profissional, que fazem um apoio local das pessoas. Porque compreendemos que temos aqui uma ferramenta simples, mas complexa. O conceito não é propriamente o mais comum.
PROGREDIR: O objetivo da Workub é fazer a diferença também do ponto de vista social?
Álvaro Sardinha: Eu costumo dizer que a Workub, se não fosse um projeto de responsabilidade social, não tinha nascido sequer. Nem tinha continuado porque os obstáculos têm sido tantos que, se fosse um projeto financeiro, eu já tinha desistido há imenso tempo. A energia que eu tenho para este projeto vem dessa parte de perceber que, de alguma forma, pode fazer a diferença na vida das pessoas. Nos tempos que correm temos mesmo de começar a pensar em comunidade, que não estamos isolados, temos de começar a pensar nas outras pessoas numa perspetiva de como podemos ajudar. Normalmente não é isso que acontece. Mas quando as coisas começam a ficar difíceis, as dificuldades, mais tarde ou mais cedo, vão aparecer para todos de múltiplas formas. É preciso que as pessoas comecem a desenvolver um propósito. É preciso garantirmos um certo equilíbrio e um equilíbrio na comunidade em que estamos inseridos. E esse equilíbrio é uma responsabilidade também de ter um papel ativo junto das pessoas que nos rodeiam. Esse talvez seja o ponto de energia do projeto porque, financeiramente, vai demorar muito tempo até começar a atingir resultados.
PROGREDIR: A nível do conceito de emprego, o que é que as pessoas precisam de perceber que mudou?
Álvaro Sardinha: A palavra “emprego” teve muito sentido no passado, mas nos dias de hoje e nos dias que hão-de vir vai ser transformada noutra coisa qualquer. E as competências vão ser uma palavra fundamental. As pessoas vão encontrar colaboração profissional, com contrato ou sem contrato. Vão ter de, mentalmente, fazer uma mudança não para um emprego, mas apostar numa competência ou duas e desenvolvê-las bem. Depois promoverem-ma como uma marca, um serviço, um produto ou uma empresa. Todas as pessoas têm de ser uma empresa e têm de ter a agilidade e dinâmica de uma empresa. Isso é ganhar, ter ideias, pô-las em prática e depois comunicá-las, vendê-las. É preciso estar sempre num processo de aprendizagem contínua, que no fundo é para isso que fomos feitos. Nós não fomos feitos para entrar num emprego e ficarmos burros. Fomos feitos para estarmos sempre a desafiar-nos, a crescer com novos desafios, com aprendizagem contínua e isso adequa-se perfeitamente às competências. Se calhar não se adequa ao emprego porque o emprego está a ser um convite a “senta-te e espera por um cheque”.
PROGREDIR: As pessoas em Portugal desafiam-se profissionalmente?
Álvaro Sardinha: Bem, se não o faziam antigamente, agora fazem. Se calhar há é um segmento de pessoas que ficaram mais ou menos paralisadas no tempo, mas há outros segmentos muito dinâmicos. A Workub tem-me permitido conhecer jovens, por exemplo, com uma energia e dinamismo que me fazem acreditar que nada é impossível. As pessoas que podem continuar formatadas para um determinado tipo de conceito e para um emprego continuam assim, as que estão em locais que mudaram vão ter de mudar também. Os jovens estão a adaptar-se muito bem. Estão a crescer num ambiente em que já perceberam que a vida tem outros contornos e estão a investir muito nas competências, naquilo que gostam de fazer. Já perceberam que não basta irem fazer uma licenciatura e depois está um emprego à espera. Também já perderam o status quo. Aqui há uns anos falava-se com um jovem arquiteto e ele recusava-se a fazer outra coisa que não fosse arquitetura. Hoje, temos arquitetos a fazer outras coisas e fazem muito bem porque a arquitetura é uma competência, não precisa de ser uma profissão.
PROGREDIR: Neste momento, começa a aceitar-se a coexistência do modelo das pessoas dinâmicas que percebem que o mundo mudou e o das que continuam a preferir ficar o dia todo no mesmo emprego?
Álvaro Sardinha: Eu acho que vai ser preciso muitos anos para isso. Estes processos são graduais, há pessoas que vão resistir à mudança, há umas que vão bater no fundo e não vão mudar mesmo e não sei se é pela idade, se é pela atitude, mas vai ser dramático para essas pessoas. Porque, mais tarde ou mais cedo, essa cultura de subsídio dependência tem tendência para se tornar cada vez menos garantida. Portanto, se as pessoas não quiserem mudar vão encontrar uma parede.
Álvaro Sardinha: A palavra “emprego” teve muito sentido no passado, mas nos dias de hoje e nos dias que hão-de vir vai ser transformada noutra coisa qualquer. E as competências vão ser uma palavra fundamental. As pessoas vão encontrar colaboração profissional, com contrato ou sem contrato. Vão ter de, mentalmente, fazer uma mudança não para um emprego, mas apostar numa competência ou duas e desenvolvê-las bem. Depois promoverem-ma como uma marca, um serviço, um produto ou uma empresa. Todas as pessoas têm de ser uma empresa e têm de ter a agilidade e dinâmica de uma empresa. Isso é ganhar, ter ideias, pô-las em prática e depois comunicá-las, vendê-las. É preciso estar sempre num processo de aprendizagem contínua, que no fundo é para isso que fomos feitos. Nós não fomos feitos para entrar num emprego e ficarmos burros. Fomos feitos para estarmos sempre a desafiar-nos, a crescer com novos desafios, com aprendizagem contínua e isso adequa-se perfeitamente às competências. Se calhar não se adequa ao emprego porque o emprego está a ser um convite a “senta-te e espera por um cheque”.
PROGREDIR: As pessoas em Portugal desafiam-se profissionalmente?
Álvaro Sardinha: Bem, se não o faziam antigamente, agora fazem. Se calhar há é um segmento de pessoas que ficaram mais ou menos paralisadas no tempo, mas há outros segmentos muito dinâmicos. A Workub tem-me permitido conhecer jovens, por exemplo, com uma energia e dinamismo que me fazem acreditar que nada é impossível. As pessoas que podem continuar formatadas para um determinado tipo de conceito e para um emprego continuam assim, as que estão em locais que mudaram vão ter de mudar também. Os jovens estão a adaptar-se muito bem. Estão a crescer num ambiente em que já perceberam que a vida tem outros contornos e estão a investir muito nas competências, naquilo que gostam de fazer. Já perceberam que não basta irem fazer uma licenciatura e depois está um emprego à espera. Também já perderam o status quo. Aqui há uns anos falava-se com um jovem arquiteto e ele recusava-se a fazer outra coisa que não fosse arquitetura. Hoje, temos arquitetos a fazer outras coisas e fazem muito bem porque a arquitetura é uma competência, não precisa de ser uma profissão.
PROGREDIR: Neste momento, começa a aceitar-se a coexistência do modelo das pessoas dinâmicas que percebem que o mundo mudou e o das que continuam a preferir ficar o dia todo no mesmo emprego?
Álvaro Sardinha: Eu acho que vai ser preciso muitos anos para isso. Estes processos são graduais, há pessoas que vão resistir à mudança, há umas que vão bater no fundo e não vão mudar mesmo e não sei se é pela idade, se é pela atitude, mas vai ser dramático para essas pessoas. Porque, mais tarde ou mais cedo, essa cultura de subsídio dependência tem tendência para se tornar cada vez menos garantida. Portanto, se as pessoas não quiserem mudar vão encontrar uma parede.
PROGREDIR: E as empresas, já estão abertas a essa mudança e procuram nos seus funcionários o perfil de competências?
Álvaro Sardinha: As empresas têm de ser muito ágeis hoje. Têm de ter a estrutura mínima e depois a capacidade de, muito agilmente, encontrar recursos para executar um determinado projeto, mas não precisa de ser integrar as pessoas. As pessoas vão funcionar cada vez mais em rede e cada vez mais em casa. O escritório está onde eu estiver, posso estar a trabalhar na rua, há muita mobilidade. A Internet tem trazido muitas ferramentas que flexibilizaram isso tudo, por isso o trabalho também vai ter de acompanhar esse movimento. Portanto, esse conceito de empregado não funciona, as empresas não querem isso. É preciso executar um projeto, então eu quero pessoas para executar o projeto, mas quando o projeto acabar eu não quero essas pessoas e não tenho de querer. Porque eu não sou um ministério. Por que é que eu hei-de querer ficar com as pessoas se depois não tenho trabalho para elas? Isso é quase levar as empresas a matarem-se, é um suicídio.
PROGREDIR: E do outro ponto de vista, o do empregado, como é que se faz as pessoas perceberem que não há empregos para a vida e que isso pode não ser mau?
Álvaro Sardinha: Essa é uma realidade, a sustentabilidade da economia vai ter de passar por aí, por isso é que a Europa toda está num colapso. Criámos muito o sistema social, demasiadas regalias. Eu acredito num sistema em que as pessoas que têm as competências vão fazer sempre falta. Tem de haver um sistema social em várias frentes, mas não necessariamente nessa regulamentação que não deixa as empresas serem flexíveis. Isso já está a acontecer. As empresas estão cada vez mais a entrar nos sistemas de gestão de contratos. Já estão elas próprias a gerir as pessoas e a colocá-las nas empresas por projetos, em que o trabalhador nunca faz parte da empresa, tem contrato com a empresa de recursos humanos. O mercado vai encontrar formas. Se não encontrar formas as empresas fecham, não conseguem resistir. As pessoas, quando têm alguma coisa para oferecer, fazem sempre falta. Não são as regras laborais que vão defender ou que vão tornar a vida mais fácil para ninguém. Para isso é preciso que as pessoas se ponham no modo de aprendizagem contínua, trabalho em equipa, valorização profissional permanente, e lutarem sempre como se fossem uma empresa. Têm de vender, de se promover, de ter algum valor. Porque se não acrescentarem valor nenhum, não há emprego que resista.
PROGREDIR: Esta crise é um mar de oportunidades para as pessoas criarem e se reinventarem?
Álvaro Sardinha: Acho que sim. Esta crise tem dois lados. Há muita gente que está a fazer transição de carreira porque acorda de repente e vê que aquilo que foi a vida deixou de ser. Então vejo pessoas com 50 anos que estão a voltar a estudar. De repente, o mundo em que estavam sentadas desapareceu e as pessoas percebem que vão ter de se requalificar rapidamente para fazer outras coisas. Isto é um processo extremamente dramático e violento porque associado a isto vem tudo o resto, o colapso. Estas mudanças nunca são pacíficas porque as pessoas, de repente, perdem toda a estrutura em que tinham baseado uma vida. Acho que é nesta fase que é preciso criar as ferramentas para as pessoas encontrarem outros caminhos. Se alguém for fazer um perfil de competências, ao fazê-lo, começa a perceber que tem imensos buraquinhos por preencher. E vai fazer essa formação. É preciso essa mudança, agora vai ser à velocidade de cada um. Há pessoas que nunca vão mudar e os que conseguiram manter os empregos, se calhar, não sentem essa necessidade.
Álvaro Sardinha: As empresas têm de ser muito ágeis hoje. Têm de ter a estrutura mínima e depois a capacidade de, muito agilmente, encontrar recursos para executar um determinado projeto, mas não precisa de ser integrar as pessoas. As pessoas vão funcionar cada vez mais em rede e cada vez mais em casa. O escritório está onde eu estiver, posso estar a trabalhar na rua, há muita mobilidade. A Internet tem trazido muitas ferramentas que flexibilizaram isso tudo, por isso o trabalho também vai ter de acompanhar esse movimento. Portanto, esse conceito de empregado não funciona, as empresas não querem isso. É preciso executar um projeto, então eu quero pessoas para executar o projeto, mas quando o projeto acabar eu não quero essas pessoas e não tenho de querer. Porque eu não sou um ministério. Por que é que eu hei-de querer ficar com as pessoas se depois não tenho trabalho para elas? Isso é quase levar as empresas a matarem-se, é um suicídio.
PROGREDIR: E do outro ponto de vista, o do empregado, como é que se faz as pessoas perceberem que não há empregos para a vida e que isso pode não ser mau?
Álvaro Sardinha: Essa é uma realidade, a sustentabilidade da economia vai ter de passar por aí, por isso é que a Europa toda está num colapso. Criámos muito o sistema social, demasiadas regalias. Eu acredito num sistema em que as pessoas que têm as competências vão fazer sempre falta. Tem de haver um sistema social em várias frentes, mas não necessariamente nessa regulamentação que não deixa as empresas serem flexíveis. Isso já está a acontecer. As empresas estão cada vez mais a entrar nos sistemas de gestão de contratos. Já estão elas próprias a gerir as pessoas e a colocá-las nas empresas por projetos, em que o trabalhador nunca faz parte da empresa, tem contrato com a empresa de recursos humanos. O mercado vai encontrar formas. Se não encontrar formas as empresas fecham, não conseguem resistir. As pessoas, quando têm alguma coisa para oferecer, fazem sempre falta. Não são as regras laborais que vão defender ou que vão tornar a vida mais fácil para ninguém. Para isso é preciso que as pessoas se ponham no modo de aprendizagem contínua, trabalho em equipa, valorização profissional permanente, e lutarem sempre como se fossem uma empresa. Têm de vender, de se promover, de ter algum valor. Porque se não acrescentarem valor nenhum, não há emprego que resista.
PROGREDIR: Esta crise é um mar de oportunidades para as pessoas criarem e se reinventarem?
Álvaro Sardinha: Acho que sim. Esta crise tem dois lados. Há muita gente que está a fazer transição de carreira porque acorda de repente e vê que aquilo que foi a vida deixou de ser. Então vejo pessoas com 50 anos que estão a voltar a estudar. De repente, o mundo em que estavam sentadas desapareceu e as pessoas percebem que vão ter de se requalificar rapidamente para fazer outras coisas. Isto é um processo extremamente dramático e violento porque associado a isto vem tudo o resto, o colapso. Estas mudanças nunca são pacíficas porque as pessoas, de repente, perdem toda a estrutura em que tinham baseado uma vida. Acho que é nesta fase que é preciso criar as ferramentas para as pessoas encontrarem outros caminhos. Se alguém for fazer um perfil de competências, ao fazê-lo, começa a perceber que tem imensos buraquinhos por preencher. E vai fazer essa formação. É preciso essa mudança, agora vai ser à velocidade de cada um. Há pessoas que nunca vão mudar e os que conseguiram manter os empregos, se calhar, não sentem essa necessidade.
PROGREDIR: O que falta a esta plataforma para atingir os objetivos iniciais?
Álvaro Sardinha: Falta muita divulgação, como qualquer projeto novo. Por outro lado, tem de se ter a noção que um projeto novo não tem necessariamente que ser um sucesso no próximo ano. É preciso vencer as mentalidades instituídas. A Workub precisa, neste momento, que as pessoas a conheçam para que a possam utilizar. Está a crescer a uma velocidade espontânea, com a adesão das pessoas, passa palavra, de uma forma gradual. Não há grandes investidores por detrás deste projeto para fazer esta máquina chegar a muita gente. Mas se calhar não é isso que faz falta. Se calhar interessa mais ir por este passo. É uma questão de tempo. Agora, as pessoas que já se registaram dizem que a ideia é boa, é válida, as felicitações vêm de todo o mundo e de pessoas com muita visão e isso é bastante positivo. Ela vai ganhando visibilidade com o seu próprio crescimento.
PROGREDIR: Uma pessoa desempregada pode ter vantagens em inscrever-se na plataforma e ser procurada por empresas de todo o mundo. Mas, no caso das empresas internacionais, que mais-valia podem ter ao recrutarem um trabalhador português?
Álvaro Sardinha: Há países que têm economias em forte crescimento e não conseguem formar tantas pessoas como aquelas de que têm necessidade nas suas indústrias, sejam elas quais forem (automóvel, construção, tecnologias). Esses países vêm recrutar a Portugal porque as pessoas estão disponíveis e os portugueses têm um nível muito bom. A Workub, neste aspeto da visibilidade, tem duas faces. Dá-me visibilidade, mas também me dá responsabilidade porque se eu não tiver competências não vou a lado nenhum. Quando começo a fazer o meu perfil de competências fico responsável pela minha aprendizagem, pelo meu crescimento. E o primeiro choque é perceber que, se calhar, não as tenho. A aprendizagem contínua é uma satisfação. Um grande crime é fazermos toda a vida uma coisa que nos chateia, que nos aborrece, e não nos revoltarmos contra isso. Nem que para isso seja preciso perder os carros e as casas. E, se for preciso, voltar à estaca zero e começar de novo.
PROGREDIR: No seu percurso também começou de novo várias vezes?
Álvaro Sardinha: O meu percurso tem sido sempre um percurso de procurar o que gostava de fazer. Segui sempre o caminho de querer acordar cedo cheio de energia, para qualquer coisa que me entusiasme. E ser cada dia um desafio grande e uma aventura, em que tudo pudesse acontecer. Já passei pelo outro lado. Comecei pela construção, depois passei por fábricas, a conduzir táxis, e digo-vos uma coisa: trabalhar das oito às seis, a olhar para uma máquina, a fazer exatamente o mesmo todos os dias, eu não recomendo a ninguém. E as pessoas têm de se revoltar, têm de se reciclar. As pessoas não podem aceitar isso. Têm de procurar, têm de se desafiar a elas próprias. Foi o que eu fiz. Segui o meu percurso e quando dei por mim não descansei enquanto não criei uma empresa. Essa empresa cresceu, tive altos e baixos, e até esse processo nos obriga a reinventar a empresa outra vez.
PROGREDIR: A Workub nasceu de repente?
Álvaro Sardinha: A Workub nasceu às quatro da manhã, num belo dia em Agosto. E nasceu porque a Tecad, a empresa que eu criei, sempre acreditou que só pode crescer no sucesso dos outros e se os outros, os nossos clientes, não tiverem sucesso, não podemos existir. E de há uns anos para cá os nossos clientes começaram a morrer. E apareceu a oportunidade de fazer alguma coisa para contribuir e para não irmos a seguir. E a Workub nasceu exatamente daí. O que é que as empresas precisavam? Precisavam de oportunidades, de se tornar ágeis. As pessoas que nós conhecíamos ficaram desempregadas e precisavam de encontrar oportunidades onde quer que fosse. A Workub era, no fundo, a sequência natural para um sistema que já tínhamos colocado na própria empresa, o tal sistema de gestão por competências. Se não houvesse adversidade, esta ideia não aparecia.
Álvaro Sardinha: Falta muita divulgação, como qualquer projeto novo. Por outro lado, tem de se ter a noção que um projeto novo não tem necessariamente que ser um sucesso no próximo ano. É preciso vencer as mentalidades instituídas. A Workub precisa, neste momento, que as pessoas a conheçam para que a possam utilizar. Está a crescer a uma velocidade espontânea, com a adesão das pessoas, passa palavra, de uma forma gradual. Não há grandes investidores por detrás deste projeto para fazer esta máquina chegar a muita gente. Mas se calhar não é isso que faz falta. Se calhar interessa mais ir por este passo. É uma questão de tempo. Agora, as pessoas que já se registaram dizem que a ideia é boa, é válida, as felicitações vêm de todo o mundo e de pessoas com muita visão e isso é bastante positivo. Ela vai ganhando visibilidade com o seu próprio crescimento.
PROGREDIR: Uma pessoa desempregada pode ter vantagens em inscrever-se na plataforma e ser procurada por empresas de todo o mundo. Mas, no caso das empresas internacionais, que mais-valia podem ter ao recrutarem um trabalhador português?
Álvaro Sardinha: Há países que têm economias em forte crescimento e não conseguem formar tantas pessoas como aquelas de que têm necessidade nas suas indústrias, sejam elas quais forem (automóvel, construção, tecnologias). Esses países vêm recrutar a Portugal porque as pessoas estão disponíveis e os portugueses têm um nível muito bom. A Workub, neste aspeto da visibilidade, tem duas faces. Dá-me visibilidade, mas também me dá responsabilidade porque se eu não tiver competências não vou a lado nenhum. Quando começo a fazer o meu perfil de competências fico responsável pela minha aprendizagem, pelo meu crescimento. E o primeiro choque é perceber que, se calhar, não as tenho. A aprendizagem contínua é uma satisfação. Um grande crime é fazermos toda a vida uma coisa que nos chateia, que nos aborrece, e não nos revoltarmos contra isso. Nem que para isso seja preciso perder os carros e as casas. E, se for preciso, voltar à estaca zero e começar de novo.
PROGREDIR: No seu percurso também começou de novo várias vezes?
Álvaro Sardinha: O meu percurso tem sido sempre um percurso de procurar o que gostava de fazer. Segui sempre o caminho de querer acordar cedo cheio de energia, para qualquer coisa que me entusiasme. E ser cada dia um desafio grande e uma aventura, em que tudo pudesse acontecer. Já passei pelo outro lado. Comecei pela construção, depois passei por fábricas, a conduzir táxis, e digo-vos uma coisa: trabalhar das oito às seis, a olhar para uma máquina, a fazer exatamente o mesmo todos os dias, eu não recomendo a ninguém. E as pessoas têm de se revoltar, têm de se reciclar. As pessoas não podem aceitar isso. Têm de procurar, têm de se desafiar a elas próprias. Foi o que eu fiz. Segui o meu percurso e quando dei por mim não descansei enquanto não criei uma empresa. Essa empresa cresceu, tive altos e baixos, e até esse processo nos obriga a reinventar a empresa outra vez.
PROGREDIR: A Workub nasceu de repente?
Álvaro Sardinha: A Workub nasceu às quatro da manhã, num belo dia em Agosto. E nasceu porque a Tecad, a empresa que eu criei, sempre acreditou que só pode crescer no sucesso dos outros e se os outros, os nossos clientes, não tiverem sucesso, não podemos existir. E de há uns anos para cá os nossos clientes começaram a morrer. E apareceu a oportunidade de fazer alguma coisa para contribuir e para não irmos a seguir. E a Workub nasceu exatamente daí. O que é que as empresas precisavam? Precisavam de oportunidades, de se tornar ágeis. As pessoas que nós conhecíamos ficaram desempregadas e precisavam de encontrar oportunidades onde quer que fosse. A Workub era, no fundo, a sequência natural para um sistema que já tínhamos colocado na própria empresa, o tal sistema de gestão por competências. Se não houvesse adversidade, esta ideia não aparecia.
FOTOGRAFIA POR JOANA AGUIAM
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